quinta-feira, 3 de julho de 2008

O Yoga - conclusão

Pensa que é fácil?

Segundo a filosofia do Yoga, nós não vemos a realidade como ela é, mas como nós mesmos somos. E o que é a realidade? O célebre psicólogo-espiritualista hindu Richard Alpress, mais conhecido como "Ram Dass" diz que:

“Crescemos em um plano de existência que denominamos 'o real'. Identificamo-nos por inteiro com essa realidade, tida por absoluta, e descartamos as experiências não compatíveis com ela, como sonhos, alucinações, insanidade ou fantasia. O que Einstein demonstrou na física aplica-se também aos outros aspectos do cosmos: toda realidade é relativa. Cada realidade é verdadeira apenas dentro de certos limites; é apenas uma versão possível do modo de ser das coisas. Sempre há múltiplas versões da realidade. Despertar de uma realidade relativa é reconhecer-lhe a natureza relativa. A meditação é um instrumento para fazer precisamente isso.”

Os últimos três estágios do Yoga de Patânjali, - concentração, meditação e iluminação, - constituem a técnica tríplice chamada "samyama" e são conhecidos como "antaranga" (membros internos), em oposição aos anteriores "bahiranga" (externos), que regem a vida exterior. Isto porque no samyama não se precisa de nenhuma técnica fisiológica nova. A partir daqui, tudo acontece em nosso interior.

O Yoga tem como fundamento metafísico o Sankhya, filosofia dualista que concebe o Universo composto de dois princípios distintos: o princípio espiritual ('purusha', com múltiplas individualidades ou mônadas); e o princípio material (prakriti). Como toda escola derivada do hinduísmo, O Yoga ensina que o purusha está ligado à matéria e submetido a uma interminável roda de transmigração (sansara). A libertação (moksha) do espírito da matéria é a meta a ser alcançada.

O Sankhya e o Yoga são considerados dois aspectos de uma única disciplina. O Sankhya é a teoria; Yoga, a metodologia da libertação.


Patânjali: o codificador do Yoga

Praticamente nada se sabe sobre Patânjali, e alguns historiadores acreditam que seja uma figura totalmente ficcional. Um comentário de Vyasa (Krishna Dvapayana Vyasa, considerado autor do famoso poema épico hindu 'Mahabharata') o define como descendente de Santanu, mas existem diversas lendas sobre ele, como por exemplo que seria a encarnação do deus serpente Ananta, ou um ser meio homem meio serpente, ou ainda uma serpente que desejou ensinar o Yoga ao mundo e caiu dos céus nas palmas das mãos abertas de uma mulher, que por sua vez o chamou de "Patânjali": no sânscrito, "PAT" significa "cair" e "ÂNJALI", "mãos abertas" ou "oferenda"...

Tudo sobre esse personagem enigmático está envolto em mistério. Para começar, como já visto, a data em que ele teria vivido é fonte de grandes discussões. Há autores que afirmam que viveu no século IV aC e outros que pensam que tenha vivido entre os séculos II e VI dC. Tamanha discrepância se deve, em parte, ao costume que os autores daquela época tinham de atribuir a autoria dos seus próprios trabalhos a outros escritores já consagrados, para homenageá-los ou então para dar relevância à própria obra.

Considerando que ele escreveu em forma de sutras ou aforismos, pode se considerar (embora não com certeza) que tenha vivido entre os séculos IV e II aC, pois foi nesse período que esse estilo literário conheceu o seu auge. - O "Yoga Sutras" é considerado um dos exemplos mais perfeitos do estilo aforístico.

Uma das lendas populares da Índia sobre o nascimento do sábio conta que:

Vishnu estava descansando deitado na serpente de mil cabeças, Ádishesha, quando viu o deus Shiva dançando e ficou extasiado. Imediatamente seu corpo começou a vibrar tanto no ritmo da dança que acabou por provocar um enorme desconforto na serpente. No final da dança, Ádishesha perguntou ao deus o que tinha acontecido. Ao ouvir sobre a dança, o deus serpente ficou interessado em aprendê-la, para dançar para Vishnu. O deus ficou impressionado com a devoção da serpente e disse-lhe que Shiva iria abençoa-lo e que nasceria na Terra como alguém que iria abençoar a humanidade com sua sabedoria.

Ádishesha começou imediatamente a especular sobre quem seria sua mãe. Ao mesmo tempo, uma yoginí muito virtuosa, chamada Goñiká, estava procurando um filho a quem pudesse transmitir a sabedoria que o Yoga tinha lhe dado. Assim, ela se prostrou diante de Súrya, o deus sol, fazendo-lhe a única oferenda que conseguiu, um pouco de água, e lhe pedindo um filho. Vendo a cena, Ádishesha soube que aquela era a mãe que ele estava procurando. Quando Goñiká estava oferecendo a água ao sol, ficou maravilhada ao ver uma pequena serpente que se materializou em suas mãos e começou, momentos depois, a adquirir forma humana. Ádishesha se prostrou então diante da sua mãe e suplicou-lhe para que o aceitasse como filho. Aceitando-o, ela o chamou Pátañjali, que significa “aquele que caiu do céu durante a oferenda”.


Como encarnação de Ádishesha, Patânjali é representado com forma de naja, um ser metade homem, metade serpente, com quatro braços cujas mãos seguram os atributos de Vishnu: a concha e o disco e fazem o gesto da oferenda, "añjali mudrá", abençoando aqueles que se aproximam dele procurando as verdades do Yoga.

Sobre a obra de Patânjali existem tantas dúvidas quanto em relação à sua vida. Dançarinos fazem-lhe oferendas antes das apresentações, pois é tido como o patrono de algumas danças indianas. Alguns autores o identificam com o autor de um famoso tratado sobre Ayurveda, o célebre sistema de saúde indiano. Outros, o chamam "Patânjali o gramático", autor também do Mahábháshya, o grande comentário da gramática de Pánini, em uso ainda hoje. Essa obra redefiniu as regras do sânscrito, aumentando o vocabulário e transformando esta língua num instrumento mais preciso e efetivo, e ao mesmo tempo mais sutil e poético, capaz de expressar muitíssimos aspectos do pensamento humano.

Entretanto, as evidências apontam para o fato de que os autores destas obras sobre filosofia, medicina e gramática seriam pessoas diferentes, pois a distância no tempo entre elas é de vários séculos. Comparando o Mahábháshya com o Yoga Sútra se chega à conclusão de que ambas as obras são excelentes na argumentação e as estruturas lógicas que propõem em seus respectivos temas, mas isso não torna seus autores a mesma pessoa.

Todas as formas de Yoga que se praticam hoje em dia têm em Patânjali uma referência obrigatória. Assim sendo, outras três perguntas surgem neste quadro: foi Patânjali de fato o autor do Yoga Sútra? Em caso afirmativo, ele fez alguma contribuição original ao Yoga ou foi apenas o compilador e o sistematizador das técnicas que se usavam em seu tempo? E teria ele feito parte de um "sampradaya", uma linhagem tradicional, ou teria sido um reformador?

Quanto a ver este autor como um compilador, temos as duas seguintes situações: por um lado, o "Nirodha Samhitá," shástra atribuído a Hiranyagarbha, tido como patrono do Yoga, é chamado com freqüência "Yogánushasanam" ou o "Ensinamento do Yoga", exatamente as palavras com as quais Patânjali inicia sua obra.

Segundo uma obra chamada Ahirbudhnya, Hiranyagarbha revelou o Yoga em duas escrituras: o "Nirodha Samhitá" e o "Karma Samhitá". E Patânjali usa o mesmo termo, ‘nirodha’, para definir o Yoga no seu segundo aforismo.

Se ele fez alguma contribuição original ao Yoga não sabemos, mas com certeza podemos afirmar que citou fontes anteriores a ele. Fontes essas hoje em dia perdidas.

A maior controvérsia diz respeito ao quarto capítulo dos Sútras. - O estilo, o conteúdo e a extensão deste páda são diferentes do resto da obra. - Nele se repetem assuntos já abordados nos capítulos anteriores. Nos três primeiros, o estilo em que se desenvolvem os temas é acessível e não dogmático. No quarto, entretanto, esse estilo muda. A voz que aqui fala, o faz desde o ponto de vista de alguém que viveu algo, a diferença do resto da obra, onde se ouve falar alguém que ainda está procurando.

Outro ponto obscuro é que o terceiro capítulo conclui com a palavra "iti", que significa ‘fim’ a maneira tradicional daquela época e lugar para se encerrar um texto. Aqueles que defendem a unidade dos sutras como eles estão hoje afirmam que o quarto capítulo é coerente com os outros três, enquanto que os críticos desta posição acham muito estranho ter uma obra com dois finais e consideram o último capítulo uma interpolação posterior.

Sobre as poucas certezas que temos, podemos dizer, por exemplo, que algo chamado Yoga existiu com certeza muito antes do tempo em que Patânjali viveu. Porém, as incertezas históricas em relação ao autor dos Yoga Sutras são de pouca importância para quem deseja alcançar aquilo sobre o que a obra fala: tranqüilidade da mente e realização do espírito. Embora possamos questionar a autoria e a origem desta obra, ela é coerente e, como guia prático para a realização pessoal, se sustenta totalmente por si própria.


"Yoga Sutras": Referência absoluta para o estudo do Yoga

Sutra significa literalmente "fio". "Yoga Sutras de Patânjali" é um livro com 195 frases concebidas para serem fáceis de se memorizar. Como visto, dentro das comunidades yogues, muitos crêem que Patânjali foi apenas um compilador, e que antes dele o trabalho já existia: os sutras seriam memorizados e transmitidos de professor para aluno.

Os sutras no texto estão divididos em quatro livros: o Samadhi Pada, o Sadhana Pada, o Vibhuti Pada, e o Kaivalya Pada.

O livro Samadhi Pada contém sutras que são considerados os mais fundamentais para o Yoga. Ele enfatiza que o Yoga é e a capacidade de se dominar os próprios sentimentos e pensamentos.

No Sadhana Pada há muito sobre prática, que é exatamento o que a palavra sadhana significa (prática). Este capítulo é onde Kriya Yoga e os oito membros do Yoga apareceram pela primeira vez na História conhecida.

Vibhuti Pada: vibhuti pode ser traduzido como "poder". Os deste livro são para descrever e ajudar o yogue a atingir a Plena Consciência.

Segundo Patânjali, uma das coisas que pode acontecer quando você começa a meditar com frequência é a aparição de certos "poderes" psíquicos chamados siddhis. Um estado mais elevado de consciência desencadearia os siddhis, que viriam sozinhos com a prática, mas não seriam importantes. - Importante é o desenvolvimento espiritual interior individual. - Então, o Yoga ensina que, se poderes específicos surgirem ao longo do caminho, não deveríamos nos importar muito ou dar atenção a isso. Patânjali adverte sobre o perigo que se esconde na tentação de usar os siddhis, pois quando alguém os obtém e começa a utilizá-los em proveito próprio, esquece o objetivo real do Yoga. É como se você pegasse uma chave de fenda para fazer algum conserto, mas, ao invés de trabalhar, ficasse olhando extasiado para a forma da chave em si e esquecesse para que a pegou.

Patânjali dedica um capítulo inteiro dos Yoga Sútras aos siddhis, porque você precisa saber o que é inútil também. Se ele não descrevesse os poderes, um a um, o praticante poderia se perder. Tudo o que você não entende lhe dá medo. Mas se você souber exatamente o que é um siddhi, quando ele se manifestar, você não entrará em pânico nem perderá o controle da situação.

Finalmente, o Kaivalya Pada, que significa "isolamento". Este livro trata da liberação final da alma, meta e finalidade última de todo yogue.


“O samádhi está próximo para os que o anseiam com intensidade. Os frutos desse anseio serão proporcionais à sua intensidade.” - Yoga Sutra de Patânjali I:21,22.


Fontes e bibliografia:
Profº Fred Peixoto
Yoga Sutras de Patânjali
Site Yoga.Pro
Vidya Yoga
Contém trechos extraídos do livro "Yoga Prático", de Pedro Kupfer



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