quarta-feira, 16 de julho de 2008

Muitos candidatos a Messias

Continuação de "O palco é montado..."

Os judeus da Terra Santa, à época de Cristo, estavam divididos em várias seitas e subseitas.

Havia os saduceus, uma classe de abastados proprietários de terras, que, para desprazer de seus compatriotas, colaboravam de forma insidiosa com os romanos.

Havia os fariseus, um grupo progressista que introduziu muitas reformas no judaísmo e que, apesar de seu retrato nos Evangelhos, se colocava em uma posição teimosa, embora passiva, a Roma.

Havia os essênios, uma seita austera, misticamente orientada, cujos ensinamentos eram mais prevalentes e influentes do que é geralmente admitido ou suposto.

Além desses, entre as seitas e subseitas menos conhecidas, havia os nazoritas, dos quais Sansão, séculos antes, tinha sido membro;

Os nazorianos ou nazarenos, um termo que parece ter sido aplicado a Jesus e seus seguidores. - Realmente, a versão original grega do Novo Testamento se refere a Jesus, como "O Nazareno", expressão muitas vezes traduzida como "Jesus de Nazaré".

Um dos grupos mais influentes era o dos zelotes, uma organização revolucionária altamente militante, criada em 6 dC por um rabino fariseu conhecido como Judas da Galiléia. Esse grupo surgiu no momento em que Roma assumiu o controle direto da Judéia. - O grupo Zelote era composto, ao que parece, também por fasiseus e essênios. - Os zelotes não eram propriamente uma seita. Eram membros atuantes de um movimento com afiliados de várias seitas.

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A vida de Jesus se passou nos primeiros 35 anos de um turbilhão social, religioso e político que se estendeu por 140 anos. Toda essa tribulação e sofrimento geraram no povo judeu expectativas utópicas e inevitáveis. A principal delas era a esperança de um Messias que libertasse o seu povo do terrível jugo romano.

O termo "Messias", que, como visto significa "abençoado" comumente se referia a um rei. Quando Davi foi abençoado e ungido como rei, no período do Antigo testamento, ele se tornou um "Messias". E todos os reis judeus subsequentes, da casa de Davi, eram conhecidos pelo mesmo título. - Mesmo durante a ocupação romana da Judéia, o alto sacerdote nomeado por Roma era conhecido como "Sacerdote Messias" ou "Rei-Sacerdote" (Maccoby, 'Revolution in Judaea', p.99). Todavia, para os Zelotes e também para outros oponentes de Roma, este sacerdote marionete era, necessariamente, um falso Messias. Para eles, o verdadeiro Messias significava algo muito diferente: o legítimo Rei perdido, o descendente desconhecido da casa de Davi que libertaria seu povo da tirania romana.

Na época do nascimento de Jesus de Nazaré essa espera era intensa, tinha enorme importância, e como sabemos continuou após sua morte. - A revolta de Masada em 66 dC (sobre a qual pretendo voltar a falar) foi instigada pela propaganda feita pelos Zelotes, em nome de um Messias cujo advento seria iminente.

A esperança na vinda do Messias representava tanto o anseio de um povo sofrido por um grande e verdadeiro "Rei Ungido" que traria a de volta a união perdida e governaria com justiça, quanto pelo grande "O Libertador". - No inconsciente popular da época, o termo "Messias" trazia uma forte conotação política. Essa percepção quase que essencialmente mundana foi usada para Jesus, chamado "O Messias", no grego "Jesus, o Cristo"; que mais tarde se tornaria o "Jesus Cristo", - que, no imaginário popular acabou se distorcendo para nome próprio.


Não faltavam candidatos a Messias na época de Cristo

Judas Galileu foi crucificado por encabeçar uma revolta contra o pagamento de impostos, segundo o historiador Gabriele Cornelli, da Universidade Metodista de São Paulo. Não era para menos: os camponeses formavam 90% da população e eram semi-escravos. Do que produzissem, 60% virava tributo para sustentar as elites romana e judaica. Eventuais faltas de pagamento fizeram com que cidades fossem incendiadas e seus habitantes crucificados ou vendidos como escravos.

Tanta falta de perspectiva distanciava o povo dos sacerdotes. Abria-se espaço para as seitas chamadas apocalípticas, alicerçadas na esperança do cumprimento das profecias dos antigos Profetas, que apostavam que Deus viria para acertar as contas, pessoalmente ou na pessoa do Messias.

Outro homem, conhecido só como "O Egípcio", juntou uma horda de para marchar desarmada sobre Jerusalém, convencendo seus homens de que Deus os faria vencer. Foram massacrados. Mais eficientes eram os sicários, salteadores que se infiltravam nas multidões e esfaqueavam romanos e colaboradores do regime. O auge dessas rebeliões armadas foi entre 66 e 70 dC, com a primeira guerra entre judeus e romanos, mas elas continuaram mesmo depois disso. - O líder, na época aclamado como Messias, se chamava Bar Kokhba. Mas esse "messias" também fracassou...

Continua...


Fontes e bibliografia:
CHOURAQUI, Andre. "A Bíblia: O Evangelho Segundo Marcos". São Paulo: Imago, 1996. Sessões "Ler a Bíblia Hoje" - "Limiar Para um Novo Pacto" - "Limiar Para Marcos";
"Gnostic Documents of Scribid", revisado;
Superinteressante, edição 199 - revisado.



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