quinta-feira, 3 de julho de 2008

O palco é montado...

A Enciclopédia das Religiões do Arte das artes, seguindo a cronologia histórica, neste momento abraça a santa e insana tarefa de abordar o seu próximo conteúdo: a história da nova religião que mudaria para sempre e como nenhuma outra os destinos da humanidade. Como sempre, começando pelo começo...


O povo que legou ao mundo a concepção do Deus Único e UNO espera pelo Salvador da humanidade

"Vinde Messias Libertador, de Israel e do mundo..."

O termo "Messias", do hebreu Masîah, Mashíach, Mashíyach ou Hammasiah, significa "O Consagrado" ou "O Ungido". A forma asquenazi é "Moshiach" e a forma aramaica é "Mesiha".

O Messias que o povo opresso e sofredor espera é o Escolhido. O Ungido que, um dia, segundo a Vontade do Eterno, iria surgir "com poder e grande glória" para acabar com a injustiça, a miséria, a dor e o sofrimento no mundo. Esta é a promessa do Todo Poderoso, esta é a esperança trazida pelos Profetas.

O que eles sabem é que o Salvador viria como homem, descendente do grande Rei David, que reconstruiria o Templo de Jerusalém, redimiria a nação de Israel e instauraria o Reino dos Céus, trazendo dessa forma a paz ao mundo.

Por séculos os judeus rezaram, em meio à sua história de sofrimentos, para que isso acontecesse logo, repetindo a oração/mantra "Maranata, Maranata..." - Vinde, Senhor!..

Mas isso parece que não estava funcionando, já que o sofrimento e as injustiças continuavam neste mundo, e cada vez piores, especialmente para o lado do povo eleito. Por razões que pareciam misteriosas, Deus não mostrava compaixão e empatia para com o seu povo, e não mandava o Messias tão esperado.


Tempo e Lugar

No primeiro século, a Palestina se via varrida por desavenças dinásticas, conflitos destruidores e guerras. Por volta de 63 aC, a terra encontrava-se mergulhada em grande turbulência, pronta para ser conquistada...

O povo judeu conheceu uma sequência ininterrupta de exílios e dominações estrangeiras: A dos babilônios, dos persas e dos helenos (587-323 aC), dos lígidas (323-198 aC), dos selêucidas (198-129 aC)... Depois, ao final do período de independência da Judéia dos asmoneus (129-63 aC) veio enfim a terrível dominação dos romanos, que naquele período parecia fatal para o povo e para a nação como um todo: a todos os espíritos e mentes parecia que o fim de Israel e do culto ao Deus UNO havia chegado...

Em torno de 25 anos antes do nascimento de Jesus, a Palestina caiu sob o exército de Pompeu e o terrível jugo romano foi imposto. Os domínios romanos, na época, eram muitíssimo extensos e, por isso, Roma estava preocupada demais com os seus próprios negócios para ali instalar o necessário aparelho administrativo e um governo direto e competente. Assim, criou uma linha de reis marionetes - a dos herodianos - para governar sob seu controle. Não eram judeus, mas árabes: Herodes Antípater (63 a 37 aC), - Herodes, o Grande (37 a 4 aC) - e Herodes Antipas.

O povo dominado por Roma podia manter a sua própria religião e seus costumes. Mas a autoridade final era Roma, e sempre reforçada pelo truculento exército romano. No ano 6, o país foi dividido em duas províncias: Judéia e Galiléia. Herodes Antipas tornou-se o rei da Galiléia. Mas a Judéia - capital espiritual e secular - ficou sujeita a norma romana direta, administrada por um procurador romano baseado em Cesarea. O regime era brutal e autocrático.

Logo ao assumir o controle direto da Judéia, Herodes fez com que mais de dois mil rebeldes fossem crucificados. O Templo de Jerusalém, extremamente sagrado para os judeus e objeto máximo de sua devoção, foi saqueado e destruído. Impostos pesadíssimos foram criados.

Esse estado de coisas não foi melhorado por Pôncio Pilatos, procurador da Judéia de 26 até 36 dC. Os registros históricos preservados indicam que Pilatos era um homem corrupto e cruel, que não só perpetuou, mas também intensificou os abusos de seu predecessor. Pelo menos à primeira vista, é surpreendente que os Evangelhos da Bíblia contenham poucas críticas a Roma e ao jugo romano.

Na época de Cristo, nada é mais contrário à verdade histórica do que imaginar que existia um meio hebraico homogêneo, na Judéia ou na Galiléia. Jamais o judaísmo foi a única religião da Palestina. A complexidade dos regimes e das dominações que passaram, deixaram suas marcas na região, superpondo-se múltiplas divindades pagãs a disputar os favores do povo; insurgindo-se unânimes, contra a inédita e totalmente incomum pretensão de YHWH de ser o único digno de adoração.

Os ídolos adorados nos templos, geralmente suntuosos, formavam uma legião: a Bíblia, as literaturas contemporâneas, os sítios arqueológicos. às vezes simples pedaços de cerâmica nos revelam os nomes destes deuses, algumas vezes parentes próximos do Elohims dos hebreus: El, Eloah, Ella, Allah, Baal, Adoni (e sua forma helenizada Adônis), Reshef, Mekal, o deus de Beit-Shean, cujo verdadeiro nome era talvez Zan, como o Zeus de Creta... Os deuses egípcios também não são esquecidos, aqueles cujo culto a filha do faraó havia introduzido oficialmente na corte do seu esposo Shelomo (o rei Salomão): Ra, Hórus, o deus-falcão, Bastet, a deusa-gata, Babum, o deus-cão... E ainda havia cultos aos soberanos divinizados e adorados em altares, com Ptá, "rei do universo", assistido por uma série inumerável de divindades de deuses-reis... Toda a idolatria e zoolatria que haviam provocado a ira e o desprezo dos profetas de Israel no passado, permaneciam vivas no espírito de um grande número de contemporâneos de Jesus.

Dionísio - Louvre, Paris

E além dos ídolos do Oriente próximo e do Egito, também as divindades adoradas no mundo helenístico e romano ganhavam importância crescente. Após a ocupação da região pelos exércitos gregos, depois romanos, os deuses adorados na Acrópole de Atenas e no Palatino de Toma tiveram "direito de cidadania" em Jerusalém. Para se ter uma idéia, Antíoco Epífanes introduziu a imagem de Dionísio no Templo de Jerusalém em 167 aC.

Essa profusão de deuses, cultos, templos, sacerdotes e liturgias favorece, como regra, a invasão de um sincretismo em uma sociedade profundamente heterogênea. O deus trácio-frígio Sabazios se confunde, no espírito de seus adoradores, com o próprio Dionísio, com Zeus ou mesmo com YHWH Sebaot(!). Reshef, o semita, é identificado a Apolo, o grego, enquanto as divindades femininas, Shtoret-Astarté, assessora de Baal Hamon, e Tanit, cananéia ou púnica, têm adoradores tão fervorosos que seus cultos degeneravam, frequentemente, em orgias.

No primeiro século, temos provas palpáveis da vitalidade ainda das religiões cananéias, asiáticas e greco-romanas sobre a terra que a Bíblia consagrava ao culto exclusivo do Deus UNO dos hebreus. E os adeptos dessas religiões não são somente pagãos, mas também hebreus preocupados em ter do seu lado não "apenas" o Deus dos deuses, mas, com Ele, todos os do panteão das outras nações.

Parece impossível compreender bem a história religiosa do primeiro século da nossa era sem levar em conta o sincretismo reinante entre o hebraísmo e o paganismo, que exerceram influências mútuas e, algumas vezes, um fascínio irresistível.

Nesse ambiente confuso e extremamente conturbado, não faltaram candidatos a Messias (a seguir)...


Fontes e bibliografia:
Chouraqui, Andre - "A Bíblia: O Evangelho Segundo Marcos" - Editora Imago – 1996 - Sessões: "Ler a Bíblia Hoje" - "Limiar Para um Novo Pacto" - "Limiar Para Marcos";
"Gnostic Documents of Scribid", revisado.


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