quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Sócrates - conclusão


Pensamento e obra de Sócrates

Sócrates foi inovador em tudo: no seu método, nos tópicos que abordou. Sua contribuição à filosofia ocidental foi principalmente de caráter ético. Seus ensinamentos visavam o entendimento integral de conceitos como justiça, amor e virtude, procurando definições para essas idéias. Ele acreditava que o vício era o resultado da ignorância e que as pessoas não são más por escolha. Que a virtude vem do conhecimento; segundo ele, aqueles que têm conhecimento têm virtude e, portanto, agem corretamente. As pessoas que não agem eticamente, o fazem por falta de conhecimento. De acordo com sua teoria, se uma pessoa sabe que algo está ética ou moralmente errado, não o faz, por saber que sua ação só trariz prejuízo, a ele próprio e aos semelhantes. Sócrates acreditava que virtude é igual a conhecimento, e que portanto, a virtude poderia ser ensinada.

Sócrates se concentrou no problema do homem, buscando respostas para a origem da essência humana. Chegou à conclusão de que o homem é a sua alma, ou seja, o seu consciente; é isso que o distingue como homem. O homem é a sua razão, seu intelecto, seus conceitos éticos, sua personalidade intelectual e moral, e, principalmente, sua consciência.

Apesar de diferir dos primeiros religiosos no método, a finalidade de Sócrates era a mesma de seus antecessores: ele focava sua busca em como viver uma vida correta. Ele não explorou áreas da filosofia como a natureza e a origem do universo ou da vida. Perguntava aos que abordavam tais dilemas se o seu conhecimento do ser humano já era tão profundo e completo, para que eles pudesseem procurar novos campos ou novas perguntas para serem explorados. Dizia que aqueles que estudavam primeiro a si mesmos, estes sim, poderiam aplicar seus conhecimentos para uma automelhora e assim promover melhoras para todos. Mas que não se entenda esta premissa como egoísmo; longe disso, a meta maior de Sócrates sempre foi o serviço ao próximo e à sociedade.

Alguns dos tópicos explorados por Sócrates: "O que é o belo?" "O que é justo?" "O que é injusto?" "O que é coragem?" "O que é governo?" "Como deve ser um governador?" "O que é ser nobre?" "O que é o Estado?" "O que é vergonha?" "Como seria o Estado ideal?"

Também abordava temas mais específicos, com perguntas como essas: "Como devemos cuidar dos nossos corpos?" "Devemos fazer exercícios físicos?" "Qual o papel da música na vida?" "E o da poesia?" "E o da guerra?" "Como alcançar o autocontrole?" "Como dominar os desejos humanos?" "Como devemos lidar com o prazer?" "E com os excessos?" "E com a luxúria?"


Métodos

O objeto da ciência é o inteligível, o que pode ser compreendido, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito obtém-se por um processo dialético (dialogando) que Sócrates chamou "indução" e que consiste em comparar vários indivíduos e eliminar-lhes as diferenças individuais e as qualidades mutáveis, e reter os elementos comuns, estáveis, permanentes em todos - a essência do ser. A indução socrática não tem o caráter demonstrativo do atual processo lógico, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo ao universal.

Sócrates, portanto, adotava sempre o diálogo nas suas pesquisas pessoais, que ele desenvolvia conforme seu interlocutor.Quando se tratava de um adversário que pretendia confrontá-lo, ele assumia humildemente a atitude de quem aprende, mas ia multiplicando as perguntas até capturar o adversário presunçoso em alguma evidente contradição, e assim obrigá-lo a confessar sua ignorância. Quando se tratava de um discípulo a instruir (que era muitas vezes um adversário vencido), multiplicava ainda mais as perguntas, dirigindo-as agora a fim de obter um conceito, uma definição geral dos assuntos abordados. A este processo pedagógico, ele denominou "maiêutica".


Doutrinas Filosóficas

A introspecção é, talvez, a maior característica da filosofia de Sócrates. Ficou expressa para a posteridade no famoso lema "Conhece-te a ti mesmo" - o perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações, assim como a moral é o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento - sensitivo e intelectual - mas não define o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.


Na "Teodicéia" (ramo da filosofia que estuda racionalmente a existência e os atributos de Deus usando a razão humana), Sócrates estabelece a existência de Deus:

a) Com argumento teológico, formulando claramente o princípio: "Tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência" (conclusão tão simples quanto brilhante);

b) Com o argumento (apenas esboçado) da "Causa Eficiente": "Se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu";

c) Com o argumento moral: a lei natural supõe um Ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifício e oração.

Mas apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates ainda aceitava muitos dos preconceitos da mitologia de sua época, que ele aspirava reformar.

O ponto culminante da filosofia de Sócrates está no ensino da moral: "Bem pensar para bem viver". O único meio para se alcançar a felicidade ou a semelhança com Deus (para ele, essas duas coisas são uma só, e representam a finalidade suprema do homem), é a prática da Virtude. A virtude adquiri-se com a Sabedoria, e com ela se identifica. Essa é uma das doutrinas mais características da moral socrática. Grandeza moral = penetração especulativa. Virtude = ciência. Ignorância = vício.

"Se músico é o que sabe música, e pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça." - Sócrates

Sócrates sugere quase sempre a utilidade como o motivo e o estímulo da virtude. Ele reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma Lei Natural, independente do arbítrio humano, universal, a Fonte primordial de todo direito positivo: a expressão da Vontade Divina, promulgada pela voz interna da consciência humana.

Como os sofistas, Sócrates é cético a respeito da cosmologia e da metafísica. A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores universais, não particulares. Para Sócrates, o agir - e o conhecimento humanos - se baseiam em normas objetivas e transcendentes à experiência. "O fim da filosofia é a moral. No entanto, para realizar o próprio fim, é preciso conhecê-lo.

A filosofia socrática limita-se à gnosiologia (ramo da filosofia que se preocupa com a utilidade do conhecimento em função do sujeito cognoscente, isto é, aquele que conhece o objeto) e à ética, e rejeita a metafísica. A gnosiologia de Sócrates se concretizava no seu ensinamento dialético. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhecimentos errados, dos preconceitos, opiniões equivocadas. E isto ele fazia usando da ironia, isto é, da crítica. Assim como os sofistas, mas com finalidade diversa, Sócrates reivindica a independência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e da convicção racional. Depois disso será possível realizar o conhecimento verdadeiro: alcançar a ciência, mediante a razão. Isto quer dizer que a instrução não deve ser imposta, mas o professor deve tirá-la da mente do próprio aluno, fazendo uso da razão imanente do espírito humano, a qual é um valor universal. Esta é a famosa maiêutica de Sócrates, que declara auxiliar os "partos do espírito", como sua mãe auxiliava os partos do corpo.

Sócrates traçou o itinerário que seria percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois grandes filósofos, partindo dos pressupostos socráticos, desenvolveriam a gnosiologia acabada, a metafísica e a moral.


Escolas Socráticas Menores

A reforma socrática fez balançar os alicerces da filosofia: a indução dialética reforma o método filosófico; a ética une pela primeira vez a ciência dos costumes à filosofia especulativa. Não é de se admirar que um homem de tamanha grandeza moral tenha, pela novidade de suas idéias, exercido sobre seus contemporâneos uma enorme influência. Entre os seus numerosos discípulos haviam verdadeiros filósofos que se formaram com seus ensinamentos.

Sócrates não elaborou um sistema filosófico acabado; no entanto, descobriu o método e fundou uma grande escola. Por isso, dele depende, direta ou indiretamente, toda a especulação grega que se seguiu, a qual desenvolveu-se em sistemas vários. Isto aparece imediatamente nas escolas socráticas. Estas, mesmo diferenciando-se bastante entre si, concordam pelo menos em que o maior bem do homem é a sabedoria. A escola socrática maior é a platônica, que culmina em Aristóteles, o vértice e a conclusão da grande metafísica grega. Fora desta desenvolveram-se também as chamadas "Escolas Socráticas Menores".


Escolas Socráticas Menores mais conhecidas:

1. A escola de Megara, fundada por Euclides (449-369), que tentou uma conciliação da nova ética com a metafísica dos eleatas e usou os processos dialéticos de Zenão.


2. A Escola Cínica, fundada por Antístenes (n. c. 445), que, enfatizando a doutrina socrática do desapego das coisas exteriores, desprezava as conveniências sociais. São conhecidas as excentricidades de Diógenes.


3. A escola cirenaica ou hedonista, fundada por Aristipo, (n. c. 425) que transformou o utilitarismo de Sócrates em hedonismo ou "moral do prazer". Estas escolas, que, durante o segundo período, dominado pelas altas especulações de Platão e Aristóteles , verdadeiros continuadores da tradição socrática, eram praticamente desconhecidas, mais tarde recresceram degeneradas em outras seitas filosóficas.


Fontes e bibliografia:
Profª Rosana Madjarof;
"A Vida e as Idéias dos Grandes Filósofos, História da Filosofia", 1926 - Will Durant (Editora Nacional);
"Noções de História da Filosofia", Padre Leonel FRANCA S. J.;
"História da Filosofia", 1974 - Umberto Padovani e Luís Castagnola (Melhoramentos);
"História da Filosofia Ilustrada pelos Textos", 1980 - André Verguez e Denis Huisman (Freitas Bastos);
Site "10 em Tudo".


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