quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Zarathustra e o zoroastrismo


O "Faravahar" - símbolo mais conhecido do zoroastrismo, representa a alma humana

A origem do zoroastrismo remonta a meados do século VI aC. A "nova religião" foi fundada pelo profeta persa Zarathustra, também chamado Zoroastro. Na realidade, muitos usam indistintamente os nomes “Zarathustra” e “Zoroastro”, mas há uma diferença básica entre os termos: “Zoroastro” indicava, na Pérsia antiga, uma determinada classe de eminências, uma dinastia religiosa. Assim sendo, existiram diversos zoroastros - Zarathustra foi um deles (o último). Mesmo assim, não está totalmente incorreto usar o termo “Zoroastro” para designar o personagem histórico, porque ele é considerado “o” Zoroastro por excelência, ou o maior dos Zoroastros.


Vida de Zarathustra

Detalhes da vida de Zarathustra são um grande mistério. Alguns pesquisadores chegam a apontar que tenha vivido em meados de 1500 aC. Mas as mais confiáveis informações existentes a seu respeito vêm do “Avesta” e do “Pahlavi” (livros sagrados), como também de alguns documentos gregos e relatórios romanos. À época de Zarathustra, a sociedade persa estava dividida em classes ou castas, e isto se refletia na religião: cada casta possuía seus deuses, cuja importância era proporcional à sua camada social. Zarathustra, observando esta realidade e insatisfeito com a situação social do seu país e as posições filosóficas vigentes, iniciou sua busca pessoal. Segue sua história segundo a tradição religiosa:

Provindo do noroeste do Irã e filho de sacerdote, aos l5 anos de idade realizava obras religiosas e chegou a ser reconhecido por sua grande bondade para com os pobres e com os animais. Aos 20 anos deixou o lar e passou sete anos em solidão, em uma caverna numa montanha.

Quanto tinha a idade de 30 anos dirigiu-se para o rio Daiti e, ao cruzá-lo, seu corpo submergiu na água - primeiro até os joelhos, depois até a cintura, e por fim até o pescoço. Após atravessar para o outro lado ele executou o “Yasna” (um ritual também chamado ‘Rito de Ijashne’); e então se apresentou a ele uma entidade brilhante, em chamas, que lhe perguntou o que desejava. Zarathustra expressou o seu desejo de entender a Verdade, e então todas as perguntas que lhe atormentavam desde sempre foram respondidas.

A entidade ardente era a “Divindade da Mente Boa”, e como o maior desejo de Zarathustra era realmente aprender sobre a Natureza e o Ser Supremo, esta lhe disse para fechar os olhos e o transportou ao Tribunal do Deus Supremo, "Ahura Mazda", a quem Zarathustra estivera buscando de coração e alma, por toda sua vida. Deus estava ladeado por outras divindades poderosas, e Zaratrusta pediu então por uma compreensão quanto ao tipo de Ser que era Ahura Mazda. Este lhe revelou que era o Verdadeiro, aquele de quem se originou o Amor e tudo que podia fazer as pessoas felizes. Aquele que deu origem ao fogo, à água e aos animais, com consideração e reverência, e que agia como seu Protetor. Que as pessoas deveriam ser íntegras no mundo dos homens, pois só assim poderiam chegar a ter felicidade e se tornarem imortais.

Depois disso, Zarathustra continuou seus estudos e concluiu que o mundo é um lugar bom, criado por um Deus bom, generoso e amoroso, cujo desejo é que todos os homens sejam felizes. - Tendo chegado a estas conclusões, então com 40 anos, desenvolveu a nova religião que iria substituir o politeísmo e que possuía um lado filosófico e outro prático, para ser usado na vida cotidiana.

Para transmitir esses ensinamentos, Zarathustra peregrinou por várias regiões, por muitos anos. As autoridades civis e religiosas opunham-se às suas doutrinas, e após doze anos de pregação ele abandonou sua região natal e fixou-se na corte do rei Vishtaspa, na Báctria (região onde se encontra hoje o Afeganistão). Este rei e sua esposa, a rainha Hutosa, converteram-se à doutrina de Zaratustra, e o zoroastrismo foi declarado religião oficial daquele reino. Este foi apenas o começo da história do zoroastrismo, o inicio da grande difusão dos ensinamentos de Zarathrusta e de uma grande reforma. Logo em seguida outras cortes seguiram os passos do rei Vishtaspa e mais tarde o Zoroastrianismo chegou a ser a religião oficial de toda a nação persa e a maior então existente.

Zaratustra foi casado duas vezes e teve vários filhos. Morreu aos 77 anos de idade, assassinado por um sacerdote enquanto se encontrava orando em frente ao fogo sagrado no templo.


Os livros sagrados do Zoroastrismo

O “Avesta” ou “Zend Avesta” - o livro sagrado das orações, hinos, rituais, instruções, práticas e leis; composto de três partes: 1 - "Vendida", que contém as leis religiosas e as histórias míticas antigas; 2 - "Visparad" e 3 - "Yasna", que segundo a tradição, contém a conversa entre Zaratustra e Ahura (Deus).

Os “Gathas” - parte do Avesta, é uma coletânea de cânticos atribuídos a Zarathustra, metrificados em língua arcaica e onde encontra-se a sistematização da religião. Os Gathas são constituídos de 6.000 palavras distribuídas em 17 capítulos. São hinos fervorosos com os quais o autor busca demonstrar o modo de vida com que se pode destruir o Mal que existe no mundo.

O “Pahlavi” - literatura sagrada zoroastrista, com as descrições das realidades superiores, do destino da alma após a morte, etc.


Pricípios básicos

O zoroastrismo prescreve a fé no Deus único, chamando-o Ahura Mazda ou 'Ormuz Mazda' ou 'Ohrmazd' ou ainda 'Zhura Mazdah' - o "Senhor Sábio", a quem se credita o papel de Criador e Guia Absoluto do Universo. O símbolo de Ahura é o fogo, que está presente em todas as cerimônias como representação viva do Deus Maior.

Da Divindade suprema emanam seis espíritos, os "Amesas Spenta" (Imortais Sagrados), que auxiliam Ahura Mazda na realização de seus desígnios: Vohu-Mano (Espírito do Bem), Asa-Vahista (Retidão Suprema), Khsathra Varya (Governo Ideal), Spenta Armaiti (Piedade Sagrada), Haurvatat (Perfeição) e Ameretat (Imortalidade).

Com Ahura Mazda, esses entes travam uma guerra permanente contra o princípio do Mal, “Ahriman” (ou ‘Angra Mainyu’), que por sua vez age acompanhado de entidades demoníacas: Mau Pensamento; Mentira, Rebelião, Mau Governo, Doença e Morte.

Dois princípios supremos, portanto, caracterizavam o zoroastrismo: o Bem e o Mal. Ahura Mazda é o Deus supremo, o Criador de todas as coisas boas, enquanto Ahriman é o princípio destrutivo que rege a ganância, a fúria e as trevas. O zoroastrismo repousa no postulado básico da grande Contradição Dualista - Bem e Mal - presente em todos os elementos do nosso mundo - mas a bondade irá triunfar e os mortos ressuscitarão.

Há no zoroastrismo uma série de exortações e interdições destinadas a dirigir a conduta dos homens e para reprimir os maus impulsos. Através do combate cotidiano a Ahriman e sua corte (que se manifestam, por exemplo, nos animais de presa, nos ladrões, nas plantas venenosas etc.), o indivíduo torna-se merecedor das recompensas divinas. Porém, todos têm liberdade para decidir-se pelo Mal, se quiserem (livre arbítrio), sabendo que nesse caso serão punidos após a morte.

Para o zoroastrismo, o homem é responsável pelos seus atos e pelas suas escolhas e colherá os seus frutos, cabendo a cada um lutar contra os maus pensamentos e as más ações - trabalho este que nunca está concluído, um esforço diário e constante. Segundo a doutrina, só através deste esforço o homem pode alcançar uma vida feliz. O zoroastrismo desenvolveu uma avançada visão metafísica, onde os pensamentos geram realidade. Quando o homem nutre bons pensamentos o Universo passa a conspirar a seu favor. Quando elabora maus pensamentos, isola-se e enfrenta toda sorte de dissabores - uma religião positivista e ética, baseada no conhecimento e na responsabilidade individual. Seus ensinamentos estabelecem a prática das boas ações, a pureza de pensamentos, palavras e obras, a pureza de coração, a verdade, a caridade, a bondade, a humildade, o respeito, a amizade e a felicidade.

Características básicas do sistema zoroastriano:

Dualismo;

Crença na imortalidade da alma, na vinda de um messias, na ressurreição dos mortos, no juízo final;

Condenação da cobiça, calúnia, usura, ascetismo, jejum;

Divindades não representadas em escultura;

Inexistência de templos;

O zoroastrismo reduziu sensivelmente a importância de certos rituais indo-arianos, repelindo alguns elementos cerimoniais correntes no Irã, como as bebidas estimulantes e os sacrifícios sangrentos. Foi após a adoção do zoroastrismo pelos aquemênidas (reinado de Dario I – 550 a 486 aC), que redigiu-se o Avesta e organizou-se a religião. Entretanto, sob os sucessores de Dario, o zoroastrismo transformou seu caráter, convertendo-se/integrando-se no mazdeísmo, impregnado de crenças populares mais complexas dos pontos de vista escatológico e ritualístico. Apesar disso, alguns pontos de contato entre o zoroastrismo clássico e o mazdeísmo aquemênida (como a purificação ritual pelo fogo), permanecem sem uma explicação conclusiva. Ainda se discutem, entre os especialistas, numerosas questões relativas à influência que a reforma de Zarathustra por certo exerceu sobre outros movimentos religiosos orientais, inclusive judaísmo, cristianismo e maniqueísmo.

O zoroastrismo, portanto, é também conhecido como mazdeísmo, e sua origem está diretamente ligada ao contexto social da época.


Contexto histórico e social

Em torno de 3.000 aC os precursores dos Proto-Indo-Iranianos (atuais hindus) começaram a migrar para o sul das estepes da Ásia Central separando-se em dois grupos; um que migrou em direção sudoeste e se instalou no noroeste de Índia; o outro, para o sudeste, e estabeleceu-se no planalto Iraniano. Antes da separação, os dois grupos compartilhavam de uma mesma cultura, idioma e religião.

Como acontece com tudo que se refere à religião, para entender as reformas de Zarathustra é preciso compreender antes o seu contexto histórico e social. Para alguns investigadores, mais do que fundador de uma nova religião, Zaratustra foi um reformador das práticas religiosas indo-iranianas. Ele propôs uma grande mudança na mentalidade dominante, indo do panteão politeísta e não dualista para o monoteísmo e o dualismo. Na perspectiva de Zaratustra, os anjos (ahuras) são vistos como seres que escolheram o Bem e os demônios (daivas ou devas) o Mal.

Como visto, a sociedade persa, na época, dividia-se em três classes: a dos chefes e sacerdotes, a dos guerreiros e a dos criadores de gado. Essa estrutura se refletia na religião, e determinadas deidades, como no hinduísmo, estavam associadas a cada uma das classes. Ao que parece os "ahuras" (deuses senhores), que incluíam Mitra e Varuna, só tinham relação com a primeira classe. Os servos, mercadores, pastores e camponeses eram considerados insignificantes demais para ser mencionados nas crônicas, embora tivessem seus próprios deuses.


Vida pós-morte segundo Zarathustra

Depois da morte a alma paira sobre o cadáver, ou ao seu redor, durante três dias. Depois disso segue para a “Cinvat” (‘Ponte do Julgamento’) para conhecer o seu destino, que lhe será transmitido pelos três Juízes: Mithra, Sraosha, e Rashnu. A alma das pessoas justas mantêm-se segura em cima da ponte e dali ruma para a Eternidade no Céu (‘Vahishta de Auhu’ ou ‘Nmana de Garo’), a Morada de Deus e dos seus anjos santificados. A alma impura fatalmente cai da ponte e é precipitada ao Inferno (‘Auhu de Duzh’). Tudo isso está nos escritos referentes à visão de Pahlavi, sobre uma visita ao Inferno, onde consta uma descrição realista de seus tormentos. Também consta do Pahlavi a existência do " Estado Intermediário Médio" (‘Hamestagan’), um lugar de purgação onde as almas serão purificadas até poderem entrar no Céu.


Fontes e bibliografia na conclusão da postagem.


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