sexta-feira, 13 de junho de 2008

Princípio essencial da Kabbalh #6

"Nunca coloque a culpa do que lhe acontece em outra pessoa ou em eventos externos."

Este é básico. É um daqueles princípios essenciais tão essenciais que poderíamos ter a impressão de que todo mundo já o conhece, que todos já sabem disso. E talvez até muita gente já saiba, mesmo. Mas tem sempre aquela história da enorme diferença que existe entre o “saber” intelectual e a profunda e real compreensão a respeito de qualquer assunto... E essa realidade é ainda mais inevitável quando se tratam das questões espirituais. Exemplo: todo mundo até “sabe” que é preciso amar o próximo. Mas entender a necessidade do Amor e querer aprender a amar verdadeiramente, bem, isso não é assim tão comum, certo? Todo mundo também até “sabe” que deste mundo não levaremos nada, que o dinheiro não compra nossa saúde, e que por isso deveríamos nos cuidar melhor e dar valor às coisas simples da vida. No entanto, na prática, o que vemos é o ser humano cada vez mais escravo do dinheiro num mundo dominado pelo capitalismo selvagem e mais pessoas adoecendo por conta de preocupações exageradas com luxos materiais desnecessários. Por que isso acontece? Porque “saber” alguma coisa apenas no intelecto é diferente de saber integralmente, saber de fato.

Mas eu resolvi que a abordagem do princípio de hoje será diferente. Até porque este sexto princípio da Cabala é um dos mais polêmicos que vamos estudar nessa série. - O assunto envolve toda uma gama de questões bem mais profundas do que possamos enxergar à primeira vista.


"Nunca coloque a culpa do que lhe acontece em outra pessoa ou em eventos externos"... - Provavelmente todos concordariam que somos responsáveis pela maioria das coisas que nos acontecem. Isto é, se eu me atiro da janela do nono andar, é quase certo que vou me estatelar no piso lá embaixo. E se eu enfio o meu dedo na tomada... Mas, até que ponto nós somos sempre responsáveis por tudo aquilo que nos acontece? Onde começa a influência do ambiente e das pessoas/circunstâncias que nos cercam sobre o que somos e fazemos, e assim, direta ou indiretamente, sobre o que nos acontece?

Visualização reflexiva: Uma mulher sai de casa para o trabalho. No caminho, o pneu do seu carro fura. Ela então tem que descer do automóvel, para trocar o pneu ou tentar pedir ajuda. Acontece que o pneu furou quando ela passava por uma área pouco movimentada e perigosa, e assim, acabou sendo assaltada. A mulher foi culpada pelo que aconteceu? Ou ela foi uma vítima? Segundo o princípio que estamos estudando, tudo o que nos acontece e de nossa responsabilidade, foi causado por nós mesmos. Então poderíamos especular muitas questões a respeito desse exemplo hipotético.

1) Por que os pneus do carro furaram? Estavam gastos? Bem, então ela deveria ter sido mais atenta; se tivesse tomado mais cuidado, isso não teria acontecido. = Nesse caso, a responsabilidade pelo infortúnio foi da mulher.

2) Mas suponhamos que o pneu tenha furado por ela ter passado em cima de um prego jogado na pista, o que teria sido impossível à mulher ver ou prever. Assim ela não teria como evitar o que aconteceu. = Então ela não foi culpada.

3) Indo um pouco mais fundo no nosso exercício de reflexão, ainda poderíamos argumentar que se ela tivesse tomado um caminho mais seguro para o trabalho, ainda que mais longo, ao invés de ficar passando numa área erma, o assalto não teria acontecido, ainda que o pneu tivesse furado. = Culpa da mulher.

4) Por outro lado, assaltos acontecem em qualquer lugar, hoje em dia, muitas vezes até mesmo diante de delegacias de polícia, o que implica dizer que, ter feito outro caminho não necessariamente significaria segurança. = Culpa da mulher ou das circunstâncias?

Aplicar essas duas linhas de raciocínio opostas, assim nesse caso como em infinitas outras possibilidades, poderia nos levar muito longe, e para cabeças diferentes, haveriam sem dúvida sentenças diferentes. Por isso mesmo, vou apelar para um outro exemplo mais radical:

Visualização reflexiva 2: Manhã de 31 de outubro de 1996. O Sr. Roberto, um pacato morador do bairro do Jabaquara, em São Paulo, cuida tranqüilamente das flores do jardim da sua casa, quando, simplesmente, um enorme avião de passageiros “Fokker 100” da companhia aérea TAM, cai a poucos metros da sua residência, matando instantaneamente três dos seus vizinhos, além dos 96 passageiros. O terrível acidente ocorreu devido a um problema no reverso da turbina, e a gigantesca aeronave caiu em cima das casas do bairro logo após decolar. Sr. Roberto foi atingido por estilhaços em chamas que arremessaram seu corpo a muitos metros de distância. Ele sofreu fratura exposta no tornozelo esquerdo, além de escoriações por todo o corpo. Passou quatorze dias hospitalizado e saiu com seqüelas que até hoje impedem que ele caminhe com a mesma desenvoltura de antes, sem contar o grave trauma psicológico.

Qual a culpa do Sr. Roberto por ter sido atingido por um avião que caiu do céu sem nenhum “aviso prévio”?? Ele poderia ter adivinhado o acidente antes que acontecesse? Que medidas de precaução ele poderia ter tomado para que não precisasse ter que passar por todo esse infortúnio?

As respostas são suas. Até que ponto o sexto princípio essencial da Cabala é válido? Até que ponto pode ser contestado?

Há muito a ser dito sobre este assunto, sem nenhuma dúvida, muitas perguntas a serem feitas e respostas a serem encontradas. Mas são perguntas que só você, leitor, pode fazer, e respostas que só você pode encontrar. Eu tenho as minhas próprias, que por hora prefiro não publicar, por entender que ser tratam de especulações iguais a quaisquer outras. Se você quiser compartilhar as suas próprias especulações comigo, esteja à vontade. Quem sabe assim possamos aprender coisas novas juntos, eu e você? A sua partilha será bem vinda. Este é o máximo que eu posso fazer para explicar o sexto princípio essencial da Cabala.


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