sexta-feira, 6 de junho de 2008

Princípio essencial da Kabbalah #1



O primeiro princípio essencial da Cabala, ensinado pelo rabino Yehuda Berg (do Internacional Kabbalah Centre), me agrada muitíssimo. Na minha opinião, trata-se de um princípio perfeito, irretocável, uma base para o nosso modo de conduta mais do que apenas importante, mas sim necessária a qualquer buscador que pretenda iniciar a sua jornada espiritual pessoal de maneira autêntica, saudável e produtiva. Se você analisar as postagens da primeira fase deste blog, vai perceber que, desde o começo da minha própria busca, eu sempre procurei me pautar por este princípio essencial, mesmo quando não conhecia absolutamente nada a respeito da Cabala ou do misticismo judaico. O primeiro princípio essencial é:

"Não Acredite Numa Única Palavra do Que Aprender nos Seus estudos. Teste as Lições Aprendidas."

À primeira vista nos parece muito fácil concordar e até entender que o primeiro princípio essencial da Cabala seja verdadeiro, sensato, correto... Porém, bem mais complicado é aplicar este mesmo princípio no nosso dia-a-dia e em nossas vidas práticas. Isso porque vivemos, todo o tempo, cada um de nós, sofrendo e reagindo às pressões do nosso ego, das nossas famílias e da sociedade em que vivemos; além de estarmos sujeitos às nossas próprias limitações e fraquezas e às muitas tentações do mundo e dos nossos desejos auto-destrutivos. Nesse processo, muitas vezes, a busca pela Verdade acaba sendo deixada de lado...

Tentações e dificuldades nunca param de se multiplicar...

Quantas vezes, em sua busca espiritual, você quis acreditar naquilo que lhe pareceu mais fácil, mais confortável ou mesmo mais "lógico"? Quantas vezes você se apegou a um determinado sistema de crenças apenas por ele lhe trazer consolo, deixando para segundo plano a questão (primordial) de ser este sistema verdadeiro ou não? E quantos são aqueles que, depois de optar por um determinado sistema de crenças, apenas porque este lhes trouxe "respostas" (verdadeiras ou não, parece não importar muito), acabam por se apegar totalmente a ele, esquecendo-se por completo da busca desapegada que primeiro os movia? E aí, depois desse ponto, passam a defender ferrenhamente a sua permanência nessa zona de conforto, usando para isso todo tipo de argumento disponível? Assim, são capazes de se utilizar de toda sorte de argumentos e elucubrações lógicas para justificar suas escolhas, mesmo sabendo que nem sempre a lógica é capaz de traduzir as realidades mais profundas do espírito. - Mas quando a lógica falha, nesse intento, com que rapidez se livram dela, apelando então para a "metafísica" ou para qualquer outra coisa que lhes justifique não abrir mão das crenças das quais se tornaram dependentes; porque estas crenças agora lhes sustentam, passaram a significar o "chão" em que pisam e proporcionam uma falsa sensação de segurança. Tudo por medo do despertar. Tudo por medo de enxergar a verdadeira Luz.

Você conhece ou já conheceu um ser humano para o qual se tornou mais importante a defesa da sua posição em sua zona de conforto do que a Verdade, que nesse processo vicioso foi deixada para segundo, terceiro ou quarto plano? Pois bem. Sem dúvida é muito mais fácil acreditar em algo, acreditar nas "lições" que os muitos "mestres" deste mundo nos trazem, simplesmente e sem questionamentos, do que testar essas lições. Principalmente é mais fácil acreditar nas lições mais confortáveis, as mais atrativas. Que são as mais fáceis de seguir. - Caminho largo, espaçoso, por onde entram multidões. - Já o Caminho Estreito, o proposto pelo Cristo, esse é um pouco mais difícil, até porque deve ser testado e retificado todo o tempo. E pra quê ter trabalho construindo meu próprio caminho, fazendo testes e ajustes incessantemente, se eu posso "comprar" e seguir um modelo pronto qualquer?..

"Não acredite numa única palavra do que aprender nos seus estudos; teste as lições aprendidas", diz o princípio número um da Cabala. Mas quantas vezes você já ouviu alguém repetir a famigerada frase, referindo-se à opção religiosa/espiritual de cada um: "A pessoa tem que ir aonde se sente bem..."?

Será que essas visões do Caminho a ser seguido são compatíveis? Para ilustrar a idéia, vou deixar aqui uma confissão pública: ao longo da minha vida, eu já experimentei alguns tipos de drogas, e drogas "pesadas" até. - E posso afirmar que essas experiências, na maior parte das vezes, me pareceram "boas". Ou seja, eu "me sentia bem" quando me drogava, quando entorpecia minha consciência e envenenava meu corpo e minha alma. - Mas, depois de algum tempo, depois que eu comecei a perder amigos (literalmente) por causa do uso indiscriminado de tais substâncias, me foi dado perceber que o prazer que eu estava sentindo não compensaria a degradação da minha consciência, a perda da minha acuidade mental, da minha saúde e até, em última instância, da minha própria vida. Por isso, eu achei melhor abandonar aquele caminho, mesmo que me "sentisse bem" nele. Eu, felizmente (Graças a Deus!), percebi a tempo que aquele caminho era um equívoco! Percebi que o fato de me "sentir bem" por estar numa determinada direção não poderia servir como confirmação daquele caminho como bom.

O mesmo deve ocorrer na busca espiritual. - O meu exemplo pode ter parecido drástico, mas a escolha equivocada de um caminho de vida sem nenhuma dúvida é algo ainda mais drástico! Porque, embora na maior parte das vezes não nos apercebamos, essa é a escolha mais importante que temos que fazer em toda a nossa vida! Não pode haver nada mais importante nem mais sério, porque tudo o mais vai depender disso, direta ou indiretamente. Principalmente, se temos fé de fato, entendemos que também a qualidade do "continuum" de nossas consciências, numa eternidade bem próxima, está diretamente relacionada a essa escolha!

Obviamente não estou falando de formas ou de religião, mas de Consciência, do modo de vida e do "caminho interior" a ser seguido pelo indivíduo. Eu sei que essas questões podem não parecer tão urgentes agora, mas procure experimentar este exercício mental muito simples: imagine-se sabendo que iria morrer amanhã ou daqui a uma hora! Imagino que, nesse caso, essa escolha iria parecer muito mais importante...


Mas... E se a Verdade se apresentasse a você, diretamente, mas num primeiro momento não se parecesse com o que você imaginava? E se a Verdade não fosse tão fácil ou tão agradável e reconfortante quanto você gostaria? Você teria coragem de aceitá-la? Teria coragem de segui-la, de tentar aprender com ela? Ou preferiria continuar seguindo a sua vida tranqüila de sempre, acalentando o seu sistema de crenças já "montado", fácil e tranqüilo, como sempre? Em outras palavras, você gostaria mesmo de sair da "Matrix"?

Naquele filme antológico, quando "Neo" (o “novo homem”), se vê diante da possibilidade de escolher entre a pílula vermelha e a azul, escolher entre a Verdade (e a liberdade) ou a ilusão (e o descanso), o tempo parece parar. Morpheus, personagem que simboliza o Mestre, o Guia que nos faz ver o Caminho, adverte a Neo que a Verdade poderia não ser aquilo que ele esperava, poderia não ser agradável, num primeiro momento. Neo escolhe a vermelha e acaba por descobrir que essa escolha lhe traria mais dificuldades e sacrifícios do que alegrias, ao menos numa primeira etapa. Isso porque ele já estava, há muito tempo, acostumado com os pequenos prazeres anestésicos e com as facilidades da estagnação da vida fácil e sem maiores responsabilidades do mundo ilusório da Matrix.

Então Neo reúne coragem para enfrentar a grande revelação da Verdade. E só depois do difícil choque inicial, só depois de finalmente aceitar a realidade como ela é, com todas as suas dificuldades, e se dedicar a todo o treinamento necessário, ele finalmente se torna apto a enfrentar de peito aberto os agentes da Matrix. E só assim, finalmente, alcança a Vitória. - E se torna o "Novo Homem" (como ele finalmente se assume e se define no combate contra o agente Smith - 'Meu nome é Neo'); como disse o Cristo, o homem livre, capaz de realizar o impossível; capaz de realizar as mesmas coisas que ele mesmo realizou, e até maiores! Mover montanhas, ou...


Mas será que este "não acreditar em nada do que aprender" significa que devemos nos livrar da fé? Absolutamente não! A fé é uma das ferramentas mais importantes de que dispomos para que possamos encontrar (isto é, enxergar) o Caminho a ser seguido. Este princípio essencial significa, isto sim, que devemos ter fé naquilo que é real, e não em qualquer coisa que, de cara, nos agrade ou pareça real.

***

Faça você também a sua escolha. A Verdade ou a ilusão. A Liberdade ou o descanso... Como encontrar a Verdade? Não se preocupe, porque isso você vai saber... Porque dentro de você, lá no mais profundo do seu ser, você já está dotado(a) de uma espécie muito sutil de "alarme", que é infalível; um alarme que com o passar da História se tornou conhecido como “Consciência”. É essa ferramenta maravilhosa que poderá lhe conduzir, infalivelmente, nesse caminho acidentado e nessa aventura incomparável que nos espera a todos. Basta ser sério(a) e estar muito atento(a). Ou "vigiar e orar". - Estamos falando de nossas tentativas individuais de enxergar um Caminho que já está diante de nós.

Seja muito bem vindo, e boa aventura pra você!


“Você deseja conhecer a Verdade? A verdade é que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro; um cativeiro que não consegue sentir ou tocar; uma prisão para sua mente. Infelizmente, não posso lhe dizer o que é a Matrix; é preciso que você a experimente por si mesmo... Se tomar a pílula azul, a história acaba, e você acordará acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha, eu lhe mostrarei até onde vai a 'toca do coelho'... Mas lembre-se: tudo que ofereço é a Verdade, nada mais." - Morpheus, em "The Matrix"


"Nunca libertamos uma mente após ela atingir certa idade, pois a mente tem problemas em se adaptar.” - Idem


“A ignorância é uma benção...” – Cypher (de ‘Lúcypher’) em "The Matrix"


“Não acrediteis em coisa alguma apenas por ouvir dizer. Não acrediteis na fé das tradições só porque foram transmitidas por longas gerações. Não acrediteis em coisa alguma só porque é dita e repetida por muitos. Não acrediteis em coisa alguma pelo fato de vos mostrarem o testemunho escrito de algum sábio antigo. Não acrediteis em coisa alguma só porque as probabilidades a favorecem ou porque um longo hábito vos leva a tê-la como verdadeira. Não acrediteis no que imaginastes, pensando que um ser superior a revelou. Não acrediteis em coisa alguma com base na autoridade de mestres e sacerdotes. Aquilo, porém que se enquadrar na vossa razão, e depois de minucioso estudo for confirmado pela vossa própria experiência, conduzindo ao vosso próprio bem e ao de todas as outras coisas vivas, a isso aceitai como Verdade. E daí pautai a vossa conduta! ” - Sidarta Gautama, o Buda – no Kalama Sutra 17:49


“Ponham à prova todas as coisas, e fiquem com o que é bom.” - Paulo apóstolo, na sua primeira carta aos Tessalonicenses, Capítulo 5, verso 21


"Não acredite numa Única palavra do que aprender nos seus estudos. Teste as lições aprendidas." - Primeiro princípio essencial da Cabala


Referência e bibliografia:
Kabbalah Centre;
"O Poder da Cabala", - Rabino Yehuda Berg (Imago).



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