sexta-feira, 27 de junho de 2008

Princípios essenciais da Kabbalah #10 e #11

"Quanto maior o obstáculo, maior a Luz potencial."

Sobre este décimo princípio essencial da Cabala não há realmente muito a ser dito, já que praticamente se trata de uma espécie de complemento ao princípio número 9.

Portanto, chegar à conclusão que esse princípio representa seria quase que uma conseqüência lógica de tudo que foi dito na nossa postagem anterior sobre a Cabala. Então vou aqui apenas reiterar o que já foi dito: os que mais enfrentam dificuldades e obstáculos na vida são exatamente os que acabam por se tornar grandes seres humanos, exemplos para a comunidade e muitas vezes até para a humanidade como um todo. Exemplos não faltam e também já foram citados. Os que precisam superar grandes obstáculos são os que alcançam as maiores realizações, pois o nosso progresso e o nosso aprendizado se dão justamente por meio das provações que precisamos enfrentar.

E assim podemos passar agora à análise do próximo princípio essencial da Cabala, o de número onze, que diz:

"Quando os desafios parecerem insuperáveis, injete certeza. A Luz está sempre presente."


Esse cara tem muita confiança ou não?


Eu diria que este princípio é bastante funcional. Como vimos, a Cabala se utiliza o termo "Luz" para se referir à Graça Divina. Estamos falando aqui de nada mais nada menos do que daquilo a que comumente chamamos “fé”. O décimo primeiro princípio essencial da Cabala é uma poderosa e milenar afirmação do poder da fé.

O que é ter fé a não ser “ter certeza”? Quando temos a plena certeza de alguma coisa, na grande maioria das vezes, essa coisa acontece, se torna real. Quem de nós nunca teve a oportunidade de comprovar essa realidade em sua própria vida?

Então, o que os antigos rabinos estão nos dizendo nestas palavras ancestrais é: Quando as dificuldades parecerem maiores, tenha fé! Este é o momento ideal para injetarmos uma dose extra de certeza em nossas vidas. Certeza de que há um Pai no Céu que cuida de nós, há uma Força maior, a Força da Vida, a tudo regendo em harmonia, que fatalmente vai nos encaminhar a um destino glorioso. Tudo que é preciso é a nossa entrega e confiança!

Só um problema: este é o tipo de princípio com o qual é fácil de se concordar ou reconhecer como "certo", e apenas ponderar e falar ao seu respeito, do que praticá-lo!

Em momentos de grandes perdas pessoais (mais até do que em momentos de perdas coletivas), de doenças, desencontros emocionais, grandes decepções... Nas ocasiões em que a vida nos prepara alguma daquelas surpresas terríveis... É exatamente nesses momentos que é mais importante acreditar, ter fé inabalável, manifestar a nossa certeza em Algo Maior!

Mas como seria isso possível?

Acho que toda e qualquer pessoa pode compreender e concorda que ter muita fé nos momentos mais difíceis da vida só faz bem, é um fator extremamente positivo, que no mínimo vai ajudar a solucionar os problemas. Tá, mas como fazer isso? Como colocar em prática um princípio espiritualista como este décimo primeiro cabalista, mesmo sabendo racionalmente que funciona, se na hora do "vamos ver" o desespero toma conta de tudo e a mente racional desaparece, sai de cena sem sequer deixar sinal da sua existência?..

Isso vai nos conduzir a uma grande verdade da vida que será fundamental na compreensão do que estamos buscando aqui: as melhores coisas da vida e as mais importantes costumam ser simples.

A cura de muitas das doenças psicológicas que parecem muito complicadas muitas vezes se dão de modo tão simples que a coisa toda chega a parecer estúpida: às vezes um profissional especializado nos processos mentais humanos simplesmente induz o paciente a mudar os seus pensamentos perniciosos e auto destrutivos fazendo-o acreditar que isso é possível! Para tanto, algumas vezes usa-se de hipnose, outras de psicanálise ou então diferentes tipos de terapia - mas o objetivo é sempre o mesmo: levar o paciente a sentir autoconfiança, acreditar em si e na solução dos seus problemas.


Já em PNL (Programação Neurolingüística) os terapeutas resolvem problemas que pareciam terrivelmente complexos apenas usando comandos claros e precisos, feitos diretamente ao sub-consciente do paciente, do tipo: “Mude agora!”, “traga aquele seu outro eu agora!”, “comece a fazer diferente a partir de agora”, etc, etc...

Inclusive muitos charlatões falsos videntes e médiuns já confessaram usar desses tipos de comando cerebral para convencer suas vítimas de seus poderes paranormais ou da existência/influência das "energias" por eles comandadas.

Em outras palavras, aquilo que acreditamos se torna real para nós, em nível subconsciente, e até certo ponto pode também se tornar real em nível físico. Vejamos o exemplo do hipnotizador que diz a uma pessoa em transe hipnótico que vai encostar a brasa de um cigarro aceso em seu braço. A seguir, toca na pele do antebraço do hipnotizado com a ponta de uma caneta. Essa pessoa dá um pulo, retira o braço com a rapidez de um gato, geme de dor. Depois de alguns minutos, forma-se no local uma pequena bolha de queimadura!! Veja bem, a pele não foi queimada, mas a certeza da pessoa fez com que a dor e mesmo os efeitos físicos se manifestassem como se tivesse sido.

Existem casos como este catalogados, que são objeto de estudo até hoje. Este é o poder da "certeza" claramente demonstrado. - No caso do exemplo citado, uma certeza induzida, mas ainda uma certeza. - Este é o poder que temos quando acreditamos plenamente em alguma coisa. Infelizmente, estamos sempre precisando de estímulos externos para acreditar que algo é possível: que somos capazes de conseguir superar dificuldades ou atingir objetivos, como emagrecer, abandonar um vício, esquecer daquele(a) namorado(a) perdido(a), etc, etc...

A Verdade é uma só e não muda, independente do que acreditamos, mas nós somos capazes de criar a nossa própria verdade, e podemos nos auto-hipnotizar de modo a crermos no que nos parecer mais conveniente num certo momento.

Isso não quer dizer que "somos Deus" ou que somos os autores de tudo, nem que somos Criador, criação e criatura em nós mesmos; também não quer dizer que sejamos a Causa de todas as coisas, como se apressam em concluir alguns místicos mais afoitos. Mas significa sim que somos, num certo nível, co-criadores do nosso destino, do nosso ser e da nossa realidade neste mundo. Temos este poder, que nos foi dado pela Fonte absoluta de toda Vida, que a Cabala chama de "O Eterno".

E depois de tudo que foi exposto até aqui, eu ainda não falei como fazer para se ter essa certeza, num momento crítico... Eu só disse que é algo simples. Mas como podemos alcançar a fé absoluta, livre de dúvidas e incertezas conflitantes, nos momentos de maior dificuldade? Como eu posso me tornar um ser sempre pronto a me "injetar certeza" quando "os desafios parecerem insuperáveis"?

Bem, eu não expliquei isso ainda, e nem vou explicar, porque não tenho essa resposta. Mas posso adiantar que, nesse caso, teorias e explicações são totalmente dispensáveis. A resposta está não no entender, assim como não está no querer, mas sim em simplesmente ser. Não no tentar, mas em fazer. Por isso, agora chegou o momento de este autor silenciar. E deixar o silêncio falar dentro de cada um. Acenda sua própria chama, dentro de si mesmo, olhe pra ela. Desarme-se, mostre-se como é. Declare o quanto está disposto a crer, o quanto confia na Sabedoria Divina, o quanto está disposto a se entregar a este Deus de Amor, se ele for mesmo real. Depois ponha-se em silêncio. E apenas aprenda sozinho. Boa sorte, e que Deus o acompanhe.


Fontes:
Kabbalah Centre;
Rabino Yehuda Berg;



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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Cinco obstáculos - para a meditação e para a vida

Este post é baseado num artigo de Ajaan Brahmavamso (Buddhist Society of Western Australia Newsletter)

Os principais empecilhos para o sucesso na meditação e para se atingir o Insight libertador assumem a forma de um ou mais dos Cinco Obstáculos denominados "Nivarana". Todo o conjunto de práticas que, segundo a tradição budista, conduz à Iluminação, pode muito bem ser expresso como o esforço para superar esses Cinco Obstáculos: primeiro suprimindo-os temporariamente com o objetivo de experimentar o estado meditativo de profunda sensibilidade e quietude da mente (Jhana) e o Insight. Depois superando-os permanentemente através do completo desenvolvimento do Nobre Caminho Óctuplo.

Esses Cinco Obstáculos primordiais são:

Desejo Sensual: Kamacchanda
Má Vontade: Vyapada
Torpor e Preguiça:
Thina-Middha
Inquietação e Ansiedade:
Uddhcca-Kukkucca
Dúvida: Vicikiccha


1) O desejo sensual em questão se refere àquele tipo particular de anseio que busca felicidade através dos cinco sentidos físicos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Ele exclui qualquer aspiração pela felicidade através do sexto sentido mental/espiritual.

Na sua forma mais extrema, o desejo sensual é uma obsessão por encontrar o prazer em coisas como a intimidade sexual, boa comida ou música refinada. Mas também inclui o desejo de substituir experiências irritantes ou mesmo dolorosas nos cinco sentidos por experiências prazerosas, isto é, o desejo pelo que a tradição budista chama de conforto sensual.

O Buda comparou o desejo sensual com o ato de tomar um empréstimo. O sentido dessa comparação está no fato de que qualquer prazer experimentado através desses cinco sentidos fatalmente terá que ser restituído pelo desagrado da separação, da perda ou do vazio faminto, que sempre surge depois que o prazer foi consumido. Tal qual um empréstimo, há também a questão dos juros, e como o Buda disse, o prazer é pequeno quando comparado com a restituição em forma de sofrimento.

Durante a meditação, o desejo sensual é transcendido, quando nos soltamos da preocupação com este corpo e as suas cinco atividades sensuais. Alguns imaginam que os cinco sentidos estão ali para servir e proteger o corpo, mas a verdade é que, numa condição de vida materialista, o corpo é que está servindo aos cinco sentidos, que brincam com ele, sempre no mundo em busca de novos pequenos prazeres. O Buda certa vez disse: “Os cinco sentidos são o mundo”; e para deixar o mundo, para desfrutar da bem-aventurança extra-mundana de Jhana, que é o estado meditativo de profunda sensibilidade e quietude da mente, é necessário abrir mão durante um certo tempo de toda preocupação com o corpo e os seus cinco sentidos.

Quando o desejo sensual é transcendido, a mente do meditador não tem interesse na promessa de prazer ou mesmo de conforto oferecidos por este corpo. O corpo "desaparece" e todos os cinco sentidos são como que desligados. A mente se torna calma e livre para olhar para o interior. A diferença entre a atividade dos cinco sentidos e a sua transcendência é igual à diferença entre olhar por uma janela e olhar num espelho. A mente, que está livre da atividade dos cinco sentidos, pode verdadeiramente olhar para o seu interior e enxergar a sua real natureza. E só assim pode surgir a sabedoria em relação ao que somos, de onde viemos e porquê. Isso não quer dizer que nos tornaremos semideuses ou seres superpoderosos transitando acima de todas as dificuldades, nem que seremos capazes de converter chumbo em ouro com um toque da mão. Mas estaremos mais próximos da felicidade, da nossa realização e do verdadeiro poder de resolver nossos problemas.

2) A má vontade em questão se refere ao desejo de revidar, machucar ou destruir. Ela inclui a raiva de alguém ou mesmo de uma situação problemática, e é capaz de gerar uma energia tão intensa que é, ao mesmo tempo, sedutora e viciante. No momento em que se manifesta, ela sempre parece justificável, pois tamanho é o seu poder, que facilmente corrompe nossa habilidade de julgar de modo equilibrado. Isto também inclui a má vontade para consigo mesmo, também conhecida como complexo de culpa, que nega qualquer possibilidade de felicidade. - O sentimento de culpa é bom quando serve para nos alertar sobre nossos erros e modos de conduta prejudiciais a nós mesmos ou aos nossos próximos. Depois de reconhecido e reparado o erro, é preciso jogar a culpa fora, ou então teremos problemas. - Quando entramos em meditação para tentar compreender alguma dificuldade que estejamos enfrentando, a má vontade aparece como antipatia em relação a este objeto da nossa meditação, rejeitando-o, de modo que a própria atenção é forçada a vagar em outras direções.

O Buda comparava a má vontade com o estar doente. Tal qual a enfermidade que nega a liberdade e a felicidade da boa saúde, a má vontade também nega a liberdade e a felicidade da paz.

A má vontade é superada com a adoção do Amor-Bondade, que a tradição budista chama de "Metta". Se a má vontade for dirigida a outra pessoa, Metta ensina a ver algo mais nessa pessoa, para além de tudo aquilo que nos fere, compreender porque aquela pessoa nos fere, (quase sempre porque ela estava se sentindo também ferida, provavelmente seu ego estivera se sentindo ameaçado por nós), e nos encoraja a colocar de lado a nossa própria dor e olhar com compaixão para os outros. Mas se isso estiver acima da nossa capacidade, Metta para nós mesmos nos levará a desistir da má vontade em relação àquela pessoa, para evitar que ela nos fira ainda mais através da memória daqueles atos. Do mesmo modo, se a má vontade estiver dirigida contra nós mesmos, Metta vê mais do que os nossos próprios defeitos, pode entendê-los e encontrar a coragem para perdoá-los, não deixando de aprender com as lições dadas por eles e depois... Deixá-los ir. Se a má vontade estiver relacionada com o objeto de meditação, (com freqüência, a razão que impede o meditador de ficar em paz), Metta abraça o objeto da meditação com cuidado e deleite. Por exemplo, como uma mãe sente Metta natural pelo seu filho, isto é, o ama incondicionalmente, assim também um meditador pode observar a sua respiração, digamos, com a mesma qualidade de atenção cuidadosa. E deste modo, será tão improvável que ele perca a respiração, devido ao esquecimento, assim como é improvável que uma mãe esqueça o seu bebê no supermercado; e tão improvável que ele deixe cair a respiração, em troca de algum pensamento distraído, assim como é improvável que uma mãe deixe cair o seu bebê por distração! A remoção da má vontade possibilita relacionamentos duradouros com outras pessoas e consigo mesmo, e na meditação, um relacionamento duradouro e agradável com o objeto da meditação, capaz de amadurecer até a completa imersão na absorção.

3) Preguiça e torpor referem-se à letargia corporal e à sonolência mental que nos arrastam à inércia incapacitante e à depressão profunda. O Buda os comparava estas energias com o estar aprisionado numa cela escura e confinada, incapaz de movimentar-se com liberdade para o sol brilhante do exterior. Na meditação, esse estado gera uma capacidade de atenção fraca e intermitente, que pode até mesmo conduzir ao sono sem que sequer nos demos conta disso!

A preguiça e o torpor são superados através do despertar da nossa energia ou Ki (ou Chi). A energia está sempre disponível, mas poucos sabem como "ligar o interruptor", por assim dizer. Estabelecer um objetivo que não seja egoísta nem fantasioso demais, mas razoável e benéfico para todos, é um modo sábio e efetivo de gerar energia, e também de desenvolver o interesse deliberado pela tarefa a ser cumprida. A criança tem um grande interesse natural pelas coisas e por conseqüência muita energia, pois o seu mundo está cheio de novidades. Portanto, se pudermos aprender a olhar para a nossa vida ou para a nossa meditação com uma ‘mente de principiante’, como a mente de uma criança, poderemos sempre ver novos ângulos e novas possibilidades que nos manterão ativos e energéticos, distantes da preguiça e do torpor. Da mesma maneira, é possível desenvolver o deleite com qualquer coisa que se faça, treinando a própria percepção para ver o belo nas coisas comuns e assim gerar o interesse que evita o estado de preguiça e torpor que a tradição budista chama de "meia-morte".

A mente possui duas funções principais: ‘fazer’ e ‘conhecer’. O objetivo da meditação é acalmar o ‘fazer’ até a completa tranqüilidade enquanto mantém o ‘conhecer’. A preguiça e o torpor ocorrem quando alguém descuidadamente acalma tanto o ‘fazer’ como o ‘conhecer’, sendo incapaz de distinguir entre os dois.

Preguiça e torpor são um problema comum que se insinua de maneira imperceptível e que lentamente nos sufoca. Um meditador hábil mantém uma vigilância aguçada aos primeiros sinais de preguiça e torpor, e assim é capaz de identificar a sua aproximação e escapar antes que seja tarde demais. É como chegar a uma bifurcação numa estrada, a pessoa pode tomar o caminho que a conduzirá para longe da preguiça e do torpor. A preguiça/torpor é um estado corporal e mental desagradável, rígido demais para saltar para a bem-aventurança de Jhana (o estado meditativo de profunda sensibilidade e quietude da mente) e completamente cego para poder
identificar qualquer insight. Em resumo, é uma total perda de tempo precioso.

4) A Inquietação se refere à mente que metafóricamente se parece com um macaco, sempre saltando de galho em galho, incapaz de permanecer por algum tempo com qualquer coisa. Ela é causada pelo estado mental que busca defeito em tudo, que não é capaz de se satisfazer com as coisas do jeito que elas são e assim tem que seguir procurando, na promessa de algo melhor, que parece permanecer sempre um pouco mais além.

O Buda comparou a inquietação com a escravidão, continuamente correndo para atender às ordens de um patrão tirânico que, exigindo sempre a perfeição, nunca permite descanso ao escravo.

A inquietação é superada com o desenvolvimento do contentamento, que é o oposto da crítica. A pessoa passa a conhecer a alegria simples do contentar-se com pouco, ao invés de sempre querer mais. Ela se sente grata por este momento, ao invés de identificar os seus defeitos. Por exemplo, na meditação a inquietação freqüentemente é a impaciência pressionando para seguir rapidamente para o estágio seguinte. Paradoxalmente, no entanto, o progresso mais rápido é alcançado por aqueles que estão satisfeitos com o estágio em que se encontram. É o aprofundamento desse contentamento que amadurece o estágio seguinte. Portanto, cuidado com esse ‘desejo de progredir’ exarcebado. Ao invés disso, aprenda como relaxar nesse contentamento apreciativo. Dessa forma, o ‘fazer’ desaparece e a meditação floresce.

A ansiedade (ou remorso) em questão se refere a um tipo específico de inquietação que é o resultado de ações ruins. A única maneira de superar a ansiedade, a inquietação de uma consciência pesada, é purificar a própria virtude e tornar-se compassivo, sábio e gentil. Na prática é impossível que alguém imoral ou vicioso faça progresso significativo
na meditação.

5) A dúvida se refere aos questionamentos íntimos perturbadores no momento em que se deveria estar silenciosamente passando para um estágio de maior profundidade. A dúvida pode questionar a própria habilidade: “Sou capaz de fazer isso?”, ou questionar o método: “Este é o modo correto?”, ou mesmo questionar o significado: “O que é isso?” Que fique claro que, neste caso, tais questões são obstáculos para a meditação porque são perguntas feitas no momento errado e assim se tornam uma intrusão, obscurecendo a clareza mental.

O Buda comparou a dúvida com o estar perdido no deserto, sem ter qualquer ponto de referência.

Esse tipo de dúvida é superada obtendo-se instruções claras a respeito do "percurso", sabendo-se exatamente aonde queremos chegar e levando-se um bom mapa; de modo que se possa reconhecer os pontos de referência sutis no território desconhecido da meditação profunda e assim saber por onde seguir. Isso é muito importante: ao contrário do que muitos leigos imaginam, apesar de a meditação profunda exigir o abandono completo do ego, a essência sutil e a intenção amorosa do praticante devem permanecer presentes todo o tempo, ainda que não de maneira ativa ou funcional. Antes de o meditador dissolver-se na prática de Jhana, deve sempre direcionar-se de modo ativo/positivo à meta da iluminação, para que não se ponha a mercê de energias psíquicas incovenientes.

A dúvida da própria habilidade é superada através do desenvolvimento da auto-confiança com o apoio de um bom instrutor. Um instrutor em meditação é como um treinador que convence o time de que eles são capazes de vencer. O Buda afirmou que todos podem alcançar Jhana e a Iluminação, se seguirem as instruções com cuidado e paciência. A única incerteza é quando! A experiência também supera a dúvida acerca da própria habilidade, bem como acerca do caminho correto. Quando realizamos por nós mesmos os sublimes estágios do caminho, descobrimos que somos de fato capazes de atingir o estágio mais elevado e que este é o caminho que nos levará lá.

O fim da dúvida na meditação é descrito como uma mente que tem confiança perfeita e assim não interfere no processo com diálogos internos. É como ter um bom motorista, ficamos sentados em silêncio durante a viagem pela confiança que depositamos nele, desde que se conheça bem a que "motorista" entregamos o nosso "automóvel" mental.

"Gafanhoto, quando você puder ver o símbolo Yin Yang nesta imagem, você estará pronto..."

Qualquer problema que surjir na meditação será um desses Cinco Obstáculos, ou uma combinação deles. Portanto, se alguém experimentar qualquer dificuldade, basta usar as explicações dadas acima como lista de controle para identificar o problema principal. Então, sabendo qual o remédio apropriado, aplique-o com cuidado para superar o obstáculo e alcançar uma meditação mais profunda.

Quando os Cinco Obstáculos forem totalmente superados, não haverá barreira entre o meditador e a bem-aventurança de Jhana. Conseqüentemente, o teste definitivo para saber se os Cinco Obstáculos foram realmente superados é a habilidade para entrar em Jhana, o estado meditativo de profunda sensibilidade e quietude da mente.


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terça-feira, 17 de junho de 2008

Princípio essencial da Kabbalah #9


Conforme vamos nos aprofundando no estudo dos princípios essenciais da Cabala, começarmos a perceber que não estamos lidando com uma coleção de aforismos esparsos, afirmações soltas, cada qual versando sobre um assunto independente dos demais. Não. Os princípios essenciais da Cabala são uma coleção de máximas "fechadas" em si, que se complementam e estão unidas umas às outras, visando levar à compreensão de uma Realidade maior e transcendente. São de certa forma interdependentes e complementares.

O próximo conceito afirma algo que eu aprendi muitos anos antes de saber que existia uma coisa chamada Cabala, porque sempre me pareceu meio óbvio, evidente. - O Princípio essencial da Cabala de número 9 (confirmando, são 14 princípios ao todo), afirma que:

"Obstáculos são oportunidades para nos conectarmos com a Luz."

Imagino que este seja dos princípios cabalísticos de compreensão mais fácil, porque fala de uma noção perfeitamente lógica e razoável. - Nem sempre a religião ou a espiritualidade precisam contrariar a lógica e a razão. Ao contrário, no momento em que a fé encontra a razão e ambas se dão as mãos, é justamente nessa hora que a paz mais perfeita e duradoura pode ser encontrada. É nesse momento que os conflitos interiores cessam e podemos nos aquietar na escolha de vida que fizemos.

Que acontecem obstáculos em nossas vidas é um fato incontestável. - Quem nunca teve que superar nenhum obstáculo na vida, que atire a primeira pedra! - Sob certo ponto de vista, poderíamos mesmo afirmar que a própria vida neste plano de realidade é um grande e único obstáculo: Desde os nossos primeiros instantes neste mundo, tudo que encontramos diante de nós são obstáculos! Já nascemos apanhando, para que possamos “abrir” os nossos pulmões e respirar; esta é a primeira nova tarefa que precisaremos aprender se quisermos sobreviver! Parece incrível, mas assim que vemos a luz deste mundo, a primeiríssima coisa que temos que fazer, queiramos ou não, é enfrentar um obstáculo: respirar não é natural para um feto, que foi gerado e viveu até então imerso no líquido amniótico, envolto pelo calor e pelo conforto do ventre materno.

Depois precisamos nos adaptar à dureza e ao contato com as superfícies duras e frias do nosso novo habitat – o mundo. Precisamos aprender a mamar. Precisamos aprender a nos manifestar quando sentimos fome ou desconforto – chamar a atenção da mamãe quando algo está errado é prática importantíssima para um bebê...

E logo que crescer um pouco, esta nova criatura vai precisar aprender coisas novas: a se locomover; primeiro engatinhando, depois caminhando devagar, passo a passo... Qualquer objeto à frente de uma criança de um ano é um grande obstáculo a ser transposto... Depois que crescer mais um pouco, terá que freqüentar a escola, se adaptar à uma nova realidade, novas pessoas, conviver em um grupo que não é mais constituído exclusivamente de pessoas do seu círculo familiar, que a amam e sempre fazem tudo por ela... Talvez a criança encontre neste novo grupo alguém que a enfrente, uma outra criança que queira dominá-la, submetê-la aos seus caprichos... Nesse caso, será preciso tomar uma decisão: submeter-se ou resistir? Eis a questão... Submeter-se poderá significar humilhação, poderá representar o início de um círculo vicioso que pode se prolongar por toda uma vida, chegando até a fase adulta e comprometendo suas futuras relações pessoais, profissionais... Por outro lado, resistência implica coragem, dor, superação... Principalmente se a outra criança, a dominadora, for maior e mais forte (geralmente, é o caso)... Obstáculos, obstáculos...

Eu poderia continuar com essa narração indefinidamente. Obstáculos e mais obstáculos a serem superados... Assim prossegue a vida do ser humano, até a sua conclusão final neste planeta chamado Terra.

Mas a Cabala, em seu nono princípio essencial se propõe a responder uma questão primordial: por quê existem e ocorrem tantos obstáculos em nossas vidas? Bem, para começar, se eu acredito em Deus, e se eu acredito que Deus é perfeito, então eu forçosamente tenho que crer também que os obstáculos precisam ter uma boa e perfeita razão de ser. E que razão poderia ser essa, a não ser o nosso aprendizado? Coerente e lógico. E é exatamente isto o que a sabedoria milenar dos rabinos místicos ensina. Foi por isso que eu disse que nem sempre espiritualidade contraria a razão, embora isso muitas vezes aconteça.

Este sem dúvida é o princípio cabalístico mais facilmente observável em nossas vidas, em nosso dia a dia, independente de você ser uma pessoa espiritualizada ou não. O rabino Yehuda Berg, diretor espiritual de um dos maiores centros de estudo da Cabala do mundo, o Kabbalah Centre, vai mais longe:

“Os que atingiram a Verdade não vivem num mundo à parte, alheios às dificuldades desta vida, sem ter que superar obstáculos como qualquer um de nós. Tenha muito cuidado com doutrinas que ensinam coisas assim, porque estão a serviço de Satan, aquele que traz a ilusão, e são como um mal contagioso! (...) Todos nós estamos aqui justamente para aprender a superar obstáculos! Esta é a finalidade desta vida, e é somente isso que nos possibilitará enxergar a Luz. - O caminho de todos nós é salpicado de testes e tribulações. Esses desafios surgem para nos acordar, mostrar nossas fragilidades e nos habilitar para receber a Luz do Criador.” - Apostila do Centro de Estudos da Cabala, sob a direção dos rabinos Yehuda e Rav Berg.

Seja rico ou pobre, religioso ou não, seja alguém que encontrou seu caminho espiritual ou não, seja uma pessoa caridosa e que pratica o bem ou uma pessoa egoísta e materialista... Todos enfrentamos dificuldades. E quais foram os seres humanos mais virtuosos da História, em todos os tempos? Sem dúvida nenhuma, foram aqueles que mais enfrentaram obstáculos e aprenderam a superá-los! Quanto maiores e mais abundantes os obstáculos, maior o espírito humano: se você se interessa por História, procure conhecer mais sobre as vidas de Henry Ford, C. G. Jung, Martin Luther King, Albert Einstein, Charles Chaplin, L. V. Beethoven, Walt Disney, Napoleon Hill, Machado de Assis... - A lista seria infinita! - Todos sofreram grandes dificuldades, todos tiveram que superar enormes e numerosos obstáculos em suas épocas. E foi exatamente aí que se destacaram em suas áreas de atuação. No campo da religião e espiritualidade, que concerne a este blog, a realidade é exatamente a mesma: basta uma breve análise da história da vida dos santos ou sábios de qualquer tradição: Moisés, Zarathustra, Jesus, Buda, Confúcio, Ramana, Ramakrishna, Ghandi, J. Krishnamurti, etc, etc... Todos enfrentaram imensas dificuldades, todos tiveram que encarar grandes obstáculos em suas trajetórias.

O budismo fala da necessidade da superação dos “Cinco Obstáculos”, que a tradição Theravada chama de “Niravana”, para que possamos alcançar o Nirvana, e nos dá a seguinte dica:

“O esforço para superar os obstáculos deve ser feito da seguinte maneira: primeiro suprima-os temporariamente, com o objetivo de experimentar a profunda absorção de Jhana, o estado meditativo de profunda sensibilidade e quietude da mente, e o Insight; depois, supere-os permanentemente através do completo desenvolvimento do Nobre Caminho Óctuplo.” - Buddhist Society of Western Australia Newsletter

A esse respeito também a tradição do Yoga atribui importância fundamental. A raiz de praticamente todos os ensinamentos contidos nos Vedantas e nas Upanishads se referem a superação dos obstáculos que incessantemente a atuação de "Mara" nos impõe neste mundo ilusório. Todo o conteúdo dos sutras do hinduísmo enfatiza repetidamente a necessidade de se superar os obstáculos neste mundo e nesta existência.

"O yogue precisa superar os kleshas: dificuldades, corrupção e paixão. - Toda e quaisquer das propriedades que embotam a mente e são a base de todos os atos prejudiciais. - Os obstáculos a serem superados pelo caminhante da senda do Yoga são: a ignorância, o egoísmo, a exaltação das paixões, a aversão e o apego à vida." – Yoga Sutra II

Ou como disse o profº José Hermógenes, o maior yogue brasileiro, autor de 19 obras reconhecidas internacionalmente e considerado um dos grandes mestres Hatha do mundo: "Se eu fosse uma planta, gostaria de viver num meio favorável que me fizesse crescer. Mas como ser humano, prefiro um meio adverso que me desafie a crescer”...

A Cabala é um sistema que se propõe como uma ferramenta útil para a compreensão da essência da própria Vida. O seu nono princípio essencial nos lembra a maneira como aprendemos tudo aquilo que precisamos, desde a mais tenra infância: caindo aprendemos a nos levantar, tropeçando aprendemos a evitar as pedras, queimando-nos aprendemos a respeitar o fogo, e, avançando um pouco mais nessa linha de raciocínio, ficando doentes é que nossos corpos aprendem a criar anticorpos e se tornam fortes. No Pain, No Gain, e o que não me mata me faz mais forte: aí está o nono princípio refletido na sabedoria popular ancestral.

Como é que um atleta treina e desenvolve o seu físico, tornando-se mais forte, mais rápido e mais resistente? Ficando sentado o dia inteiro no sofá, assistindo TV e tomando um suco, pensando no quanto a vida é maravilhosa? Não! Ficamos mais fortes e nos tornamos mais e mais competentes quanto mais nos impomos obstáculos e aprendemos a superá-los. E quanto maiores eles forem, maiores serão nossos progressos.

Óbvio que nesse contexto existe a necessidade da proporcionalidade. Não convém tentarmos carregar um peso maior do que possamos suportar e nós não poderíamos esperar de alguém que nunca subiu um pequeno monte que se aventurasse a escalar o Everest. Sobre isso falou Paulo apóstolo:

“Não vieram sobre vocês dificuldades, senão humanas; mas fiel é Deus, que não nos dará dificuldades maiores do que podemos suportar. Antes, com as dificuldades dará também a possibilidade de superação, para que possamos suportar." - I Coríntios 10 : 13


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Segundo a Cabala, obstáculos são bênçãos, oportunidades para nos conectarmos com a Luz; devemos dar graças por eles, e jamais maldizê-los. Uma linha de pensamento plenamente compartilhada pelo anônimo autor deste antológico poema que se tornou ecumênico:

“Eu pedi forças... E Deus me deu dificuldades para me fortalecer.
Eu pedi sabedoria... E Deus me deu problemas para resolver.
Eu pedi prosperidade... E Deus me deu cérebro e músculos para trabalhar.
Eu pedi coragem... E Deus me deu obstáculos para superar.
Eu pedi amor... E Deus me deu pessoas com problemas para ajudar.
Eu pedi favores... E Deus me deu oportunidades.

Nem sempre recebo o que peço... Mas Deus me dá sempre o que eu preciso!”


A sabedoria parece transparecer dessas palavras. Sabedoria que é judaica, cabalista, budista, cristã... e ao mesmo tempo não é de propriedade de nenhuma tradição humana, porque é dádiva de Deus à humanidade, antes de tudo.


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Princípio essencial da Kabbalah #8

Nesta postagem abordaremos o próximo princípio essencial da Cabala, o oitavo, que pode ser entendido como uma espécie de confirmação ou uma validação do sétimo e do quarto princípios. Este oitavo princípio afirma que:

O comportamento reativo cria faíscas intensas de luz, mas deixa em seu rastro, por fim, a escuridão.

O que significa isso? Apenas aquilo que todos nós muito provavelmente já tivemos a oportunidade de confirmar pelo menos uma vez em nossas vidas: que quando damos vazão ao ímpeto de algum instinto baixo que nos toma de assalto, como a raiva, a sede de vingança, a inveja ou a luxúria, o resultado é que num primeiro momento até nos sentimos gratificados, como se estivéssemos "fazendo a coisa certa". Mas se ouvimos a nossa consciência, logo em seguida sentiremos um grande vazio, uma sensação de escuridão. Abaixo, dois exemplos de casos reais extraídos da revista de psicologia “Catharsis”, que ilustram à perfeição o significado deste oitavo princípio (os grifos são meus):


Exemplo 1:

“Entrou uma nova estagiária no escritório, uma loura estonteante. Ela é sensual e provocante, e o pior de tudo é que começou a me ‘dar bola’. Todos os meus amigos estão percebendo isso, e eu, que tenho sangue nas veias, comecei a me sentir tentado. Mesmo sendo casado e apaixonado pela minha esposa, mesmo ela me completando em tudo, eu sinto muita atração física pela nova estagiária. É só atração física e nada mais, mas é muito forte. Numa sexta feira os colegas do escritório marcaram um chope para depois do trabalho. A loura também estava nessa, e ela pessoalmente veio me convidar para ir também; eu não resisti e topei. Eu dizia para mim mesmo que nada aconteceria, que seria apenas um bate-papo inocente... Mas eu sabia muito bem que algo de errado poderia acontecer. E aconteceu (...).

Quando chegamos no bar, eu e a loura nos sentamos lado a lado; logo começamos a conversar, nos identificamos bastante, as nossas idéias eram parecidas e ficou claro que a atração física era recíproca. Bebemos talvez mais chopes do que o ideal. Num certo momento, ela pediu uma caipirinha e nós bebemos juntos. Eu comecei a me sentir muito leve e relaxado, era um momento muito gostoso... Resolvi pedir mais outra caipirinha...

Uma coisa leva a outra, e o resultado foi que, depois da happy hour, eu e a estagiária acabamos num motel... Cheguei em casa de madrugada, já arrependido. Eu tinha desligado o celular e minha esposa me esperava acordada e com os olhos inchados de chorar, ela estava muito preocupada (...). Eu dei uma desculpa e fomos dormir brigados.

Agora estou sentindo muito remorso. Na hora em que tudo acontecia, entre eu e a estagiária, de vez em quando a imagem da minha esposa me vinha à mente, mas eu a afastava sempre, porque estava indo tudo tão bem para mim... E naquele momento alguma coisa me dizia que eu merecia me divertir um pouco. Embora eu estivesse consciente o tempo todo que a minha esposa confiava em mim e que ela não merecia aquilo, na hora eu achei que seria preferível me arrepender de algo que eu fiz do que de algo que não fiz.

O que está feito está feito eu não consigo fugir da minha culpa. Depois fiquei me sentindo muito mal por isso, sentindo um grande vazio dentro de mim, como se eu tivesse matado algo muito bonito que existia entre mim e minha esposa. Depois daquela noite eu chegava em casa toda noite e olhava para o rosto dela, que sempre tinha sido tão maravilhosa comigo, e me sentia culpado. O pior é que depois desse dia ela começou a se sentir deprimida sem nenhuma razão. Antes ela me esperava sempre com um grande sorriso no rosto, às vezes com um jantar especial ou alguma surpresa para me fazer quando eu chegasse em casa, algum pequeno presente ou coisa assim. E depois do que aconteceu ela estava sempre triste e falava pouco... É como se estivesse intuindo alguma coisa... O pior é que a tal estagiária gostosa têm se demonstrado disposta a repetir a dose daquela noite. Mas eu não tenho vocação pra canalha e disse a ela que era casado... Ela não sabia disso da primeira vez.

Por fim, acabei contando tudo também à minha esposa, porque o peso na consciência estava me matando. Agora estamos separados e eu me encontro numa depressão profunda...”



Desse primeiro exemplo, gostaria de comentar um trechinho que achei muito interessante: "Achei que seria preferível me arrepender de algo que eu fiz do que de algo que eu não fiz". - Ô frasezinha feita maldita, essa! Quantas burradas são cometidas em nome dela... Uma amiga minha acabou grávida e depois se submetendo a um aborto por pensar assim! No processo todo, ela perdeu o cara que amava (a frase foi usada para justificar uma traição ao marido, igualzinho ao exemplo acima), perdeu um bom emprego e a confiança da sua família. E tudo começou com essa maldita frase feita. Eu estava lá, pessoalmente, no dia em que tudo começou e sou testemunha: ela mesma me falou essa frase, textualmente: "Prefiro me arrepender do que eu fiz do que pelo que não fiz"... Bem, ela sem dúvida se arrependeu por ter feito, e isso literalmente acabou com a vida dela, que até hoje sofre com uma depressão que os remédios não curam. Já tentei ajudá-la de diversas maneiras, mas ela nunca mais foi a mesma...


Exemplo 2:

“Meu filho de 15 anos arranjou uma briga na escola. Chegou em casa com o rosto machucado, lábios inchados e um corte no queixo. Quando ele me disse quem tinha feito aquilo, fiquei louco de ódio, porque eu conheço o garoto, que mora no mesmo bairro que nós, e ele é bem maior do que meu filho. Na mesma hora fui até a sua casa e o chamei, aos berros. Logo que o garoto saiu no portão, eu pulei em cima dele, joguei-o no chão e lhe dei uma bela surra. Só quando a mãe dele apareceu na porta e começou a gritar foi que eu saí de cima. Eu sou um cara bem grande (...) e deixei um menino de 16 anos lá, jogado no chão, sangrando e chorando...

Quando cheguei em casa já estava profundamente arrependido, e foi só então que me dei conta que o garoto era na verdade do mesmo tamanho do meu filho. E que ele também já estava com um olho roxo quando eu cheguei lá. Ou seja, o que aconteceu entre os dois meninos foi uma luta justa entre dois adolescentes, que haviam se acertado e na hora que eu resolvi intervir, na verdade já estava tudo bem entre eles. O meu filho até tentou me explicar isso, mas eu quis bancar o pai protetor, e talvez também me afirmar como macho, e fiz algo terrível. Naquela mesma noite a polícia veio até a minha casa e eu fui conduzido até o distrito policial para prestar depoimento... O garoto estava lá, ao lado dos pais dele, e só então eu percebi o quanto o havia machucado. Seu rosto estava praticamente desfigurado. Seu pai, que era meu conhecido, me olhava com uma expressão de pasmo, como quem diz: ‘O que deu em você?’(...).

Naquele momento eu vi o meu próprio filho nos olhos daquele garoto arrebentado, e um remorso enorme tomou conta de mim. Senti vontade de abraçar o menino que eu havia surrado, de lhe pedir perdão e recompensá-lo de algum modo. Lágrimas brotaram nos meus olhos, e o delegado nesse momento me disse: ‘Todo machão igual a você chora quando chega na minha frente. Você não passa de um covarde!’ – O pior é que, naquele momento, eu percebi que ele tinha toda razão. Eu tinha me comportado como um covarde completo, e agora era tarde para desfazer a minha estupidez. Teria que pagar pelo que fiz, mas nada era pior do que o peso da culpa...”



Não há dúvida nenhuma de que poderíamos citar milhares de outros exemplos muito parecidos com esses dois, mas acho que já é o suficiente para ilustrar a validade do oitavo princípio essencial da Cabala:

O marido infiel sentia uma grande atração pela "loura fatal". Ela correspondeu ao interesse. Ambos fizeram a ocasião acontecer e ele entrou de cara no que a Cabala chama de “comportamento reativo”. Quando se atirou nos braços da bela loura e saciou os seus desejos até o fim, naquele momento tudo foi muito bom para o rapaz. - Foi empolgante, foi incrível! - Tanto que, mesmo pensando na esposa ele seguiu em frente! Isso é exatamente o que o oitavo princípio chama de uma “faísca intensa de luz”: A sensação de que estamos fazendo o que é certo, ou de que estamos vivendo uma experiência pura e maravilhosa.

Precisamente a mesma coisa acontece no segundo exemplo. Quem de nós nunca foi dominado por uma raiva irracional e, ainda que por poucos instantes, desejou encher aquele chefe idiota de pancada? Quando o pai do rapaz agrediu o colega do seu filho, por um segundo ele deve ter sentido um grande prazer, uma sensação de alívio. Na sua mente, naquele momento distorcida pelo ódio, ele estava fazendo justiça, estava "vingando o coitadinho" do seu filho!

O que o princípio número oito está nos dizendo é exatamente isto: que quando você pára de resistir às tentações desta vida, e resolve reagir a elas, isto é, ceder aos seus instintos, por um momento tudo parece lhe dizer que você está fazendo o certo! Parece haver luz! Mas o que fica depois, é, "por fim, a escuridão". Pode demorar mais ou menos, mas a consequência é sempre a escuridão.

E para me manter em harmonia com a minha consciência, eu não poderia deixar de lembrar a todos os buscadores que isto é exatamente o contrário do que ensinam os “mestres” e “gurus” da nova: praticamente todos eles dizem que você deve se entregar, que você não deve resistir; que se você tem algum desejo, deve se entregar sem se reprimir. E que assim, naturalmente, no tempo devido tudo se resolverá por si mesmo. Ocorre que, nessa levada, milhares de vidas foram e continuam sendo perdidas, vidas de jovens que se entregam aos mais diversos tipos de vício e nunca mais conseguem se libertar. Nada se resolve quando nos entregamos ao comportamento reativo, porque não é isso o que acontece quando largamos mão e abandonamos o bom Caminho. A Verdade nos ensina o oposto disso. Quando deixamos de "resistir", nos tornamos como que barcos à deriva, e embora seja romântico imaginar que seremos levados, sem nenhum esforço de nossa parte, a um porto seguro, o que sempre acontece na prática é que as ondas da vida nos atiram às rochas e nos arrebentamos! - É justamente por isso que viemos a este mundo dotados de um "leme" (que é a nossa consciência) e de um "motor de popa" (que é o nosso poder de escolha, nosso livre arbítrio). Observação: ainda que você acredite em reencarnação e ache que, mesmo que botar tudo a perder nesta vida vai poder recomeçar tudo na próxima... Ainda assim, não se esqueça que a idéia é evolução, e ninguém "evolui" jogando sua vida fora. De qualquer jeito é preciso esforço. Nenhuma hipótese, absolutamente nenhuma, justifica o comportamento reativo. As religiões confirmam esta afirmação.

Além de tudo isso, para compreender este princípio é preciso ter em mente que "Religião" (re-ligare) significa "Religação com o Divino": re-ligação, isto é, voltar a ligar (unir) o que estava desligado (separado). Sem esta base primordial não há religião. E é exatamente por isso que não existe religião sem Deus: o "religar" remete à religação com Deus, o retorno à Fonte. Se o termo "Deus" não parece bom, você pode chamar de "Ser", "Infinito", "Radiante", "Fonte", "Criador", "Eterno", "Pai", "Energia Cósmica"... Mas o sentido será o mesmo, e o fato permanece: se não há Deus, podemos estar falando de filosofia, de psicologia ou alguma outra coisa. Pode ser algo bom, sim, mas não é religião. Assim, todas as religiões autênticas concordam neste oitavo princípio essencial da Cabala.


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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Princípio essencial da Kabbalah #7

Apresentando agora o sétimo princípio essencial da Cabala:

"Resistir aos nossos impulsos reativos cria Luz permanente."


Ao meu ver, este é o tipo de princípio espiritualista que funciona na prática, que traz em si um imenso potencial, porque se posto em prática pode se revelar útil a todos, aos que têm e também aos que não têm fé.

Apesar de as desarmonias próximas afetarem a nossa vida doméstica, a desarmonia e as violências mundiais também acabam afetando o Todo, e assim refletindo-se em nossas vidas individuais. A muitos místicos, o Todo parece estar doente, muito doente. A Terra, com a sua fauna e a sua flora e com todos os seus habitantes, está doente, e no mais profundo de nossas consciências nós todos sabemos o por quê. A Mãe Terra adoece nas mesmas proporções em que perdemos os nossos valores éticos e morais e deixamos de observar as nossas ações. E assim praticamos ou admitimos que se pratiquem (o que em termos práticos é a mesma coisa) violências contra nossas florestas, nossos rios, lagos e mares, e contra diversas espécies animais e vegetais e também contra os grupos de seres humanos mais humildes, nações inteiras que se encontram ainda num estágio de desenvolvimento longe do ideal...

E se a desarmonia e a violência, em nível mundial, fazem adoecer a Mãe Terra, será que a nossa desarmonia particular igualmente nos adoece?

Quando alguém perde a paciência, grita e esbraveja, é comum alguém dizer: “Acalme-se, senão você acaba doente!”. Nós todos já dissemos ou ouvimos algo parecido com isso alguma vez na vida. - Este é um exemplo de expressões que demonstram o nosso entendimento instintivo de que há conexões profundas entre o nosso estado mental e o estado de nossos corpos físicos. Afinal, cabeça e corpo fazem parte de um todo que é influenciado principalmente por nossas emoções, isto já comprovado e demonstrado clinicamente. E as nossas emoções negativas, especialmente a raiva, a frustração, o ódio e todas as respostas reativas do nosso ego, são capazes de causar desequilíbrios que podem provocar doenças em nossos corpos e principalmente em nossa psique.

A raiva, ou seja, a ação manifestada de nossas fúrias interiores, age como uma descarga energética excessiva e pode se manifestar de várias maneiras: pode ser verbal e pode resultar em agressões e violência direta. Ou podemos tentar "esfriar" a raiva, mantendo-a no baú do inconsciente, esperando um momento adequado para manifestá-la. Muitos fazem isso repetidamente, de maneira fria, calculada e mordaz. Existem dor e frustração envolvidas nesta raiva contida, que acabará por causar doenças de manifestação lenta e interna.

O “esfriamento” da raiva provoca ressentimento. Pessoas que agem assim procurarão analisar de maneira lógica as razões da raiva, achando que, com uma análise fria e racional poderão esconjurar a sua reação animal e instintiva. Mas o esfriamento excessivo pode acabar explodindo num sentido oposto, ou seja, virar ódio e se tornar incontrolável e mais destrutivo do que nunca quando for finalmente manifestado!

O indivíduo também pode querer negar, num primeiro momento, a sensação de frustração e raiva que sente por dentro. Tudo fica bem guardado no subconsciente, e vai se afundando nas profundezas da psique. A pessoa torna-se acabrunhada e depressiva. Mas a raiva vai e volta, como as ondas do mar, e poderá vir à tona como um furacão para destruir tudo o que encontrar pelo caminho, dentro e fora do ser.

O importante nesse caso é entender que somos nós mesmos os responsáveis por "disparar o gatilho" que dá origem à raiva: quando agimos de forma egocêntrica, ou seja, comandados pelo ego (que é influenciado entre outras coisas pelo meio social em que vivemos), estamos apertando o gatilho. Nosso ego representa em parte o aspecto físico e em parte o aspecto psicológico de nossa personalidade. Ele se conecta diretamente com nossos instintos animais, expressando as necessidades e instintos de sobrevivência do nosso corpo físico. Formamos o nosso ego logo na primeira parte da nossa vida, influenciados pelo ambiente em que formos criados. Os pais, (principalmente a mãe), a família, o ambiente doméstico e posteriormente o ambiente social, - a sociedade na qual formamos nossas primeiras noções sociais, - todos são formadores do ego, a nossa auto-imagem. Estamos sempre sob essa influência, nossas vidas inteiras, e ela acabará norteando muitas das nossas escolhas. Somente quando conseguirmos descobrir e desenvolver toda a potencialidade da nossa essência real, dando ouvidos ao que muitos místicos chamaram de “Eu Interior”, é que poderemos fugir dessa influência negativa.

Os cabalistas preconizam que, quando pudermos tomar as rédeas de nossas vidas, escolhendo nossas ações de forma consciente, poderemos escolher puxar ou não o gatilho daquela arma mortal desencadeadora de tantos males físicos e espirituais. Se despejarmos a nossa raiva nos outros somente porque não podemos admitir nossos erros, se precisarmos de um “bode expiatório” para ser objeto da nossa ira e da nossa frustração, então estaremos espalhando negatividade ao nosso redor e influenciando negativamente nosso “campo energético” - o que significa contribuir para a piora do estado geral do Todo.

Mas é fundamental compreender que o fato de "explodirmos" ou nos contermos, exteriorizar ou interiorizar a nossa raiva não irá modificar a nossa essência interior primordial, que continuará negativa. Mesmo a negação pode ser uma arma do medo e abrir certos mecanismos de defesa psíquicos/orgânicos bastante perigosos. A contrapartida é que despejar a raiva em outra pessoa também não recompõe o nosso equilibro, como muitos parecem acreditar.

Segundo a Cabala, para vivermos de forma harmoniosa é necessário estarmos sempre atentos às nossas “formas-pensamento”. Se conseguirmos transmutar o negativo em positivo, dentro de nós mesmos, estaremos no real caminho da autocura. O sentido é: o auto controle que vai nos permitir passarmos de uma condição puramente reativa (na qual apenas reagimos aos acontecimentos) para a liberdade da condição humana proativa (onde somos nós que decidimos as nossas ações – fazemos as nossas escolhas independente de fatores externos) vai depender principalmente da forma como conseguirmos resistir aos nossos impulsos egocêntricos e reativos, para "desengatilhar" essas armas mortais.

Seria muito interessante se nos lembrássemos disso a cada vez que estivéssemos a um passo de perdermos a paciência com o nosso próximo. Fazendo desse exercício um ato de Amor universal, ajudaremos também a curar o TODO.


Resumo: resistir aos nossos impulsos reativos com cada vez mais freqüência fatalmente vai nos conduzir a um novo patamar de consciência. A dedicação firme e constante a essa prática, diariamente, leva a uma evolução gradual e constante em direção à proatividade. Reatividade ou proatividade tem muito a ver com hábito. Alguém que costuma gritar (reação) toda vez que é contrariado, vai continuar gritando sempre, até que decida que gritar não é uma atitude muito madura. Se ele começar a se esforçar em contra-argumentar ao invés de gritar, e se a cada nova situação de contrariedade ele se lembrar disso, aos poucos o antigo hábito de gritar será substituído pelo novo hábito de contra-argumentar. Isto é proatividade - a diferença entre apenas reagir a acontecimentos que fogem do nosso controle e agir segundo uma escolha pessoal, determinada pela opção por algo que se escolheu como adequado e bom. Não é engolir a raiva. Não se trata de se reprimir, mas sim de saber observar-se e não sair do seu nível vibracional normal (de serenidade, por exemplo) por conta de circunstâncias externas. O clássico conto zen-budista do lendário espadachim idoso é um exemplo perfeito de comportamento proativo:

Perto de Edo (antigo nome da cidade de Tóquio) vivia um grande samurai, já idoso, que amava ensinar sua filosofia para os jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda de que ele ainda era capaz de derrotar qualquer adversário com a espada. Certa tarde, um jovem guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de grande habilidade para contra-atacar em qualquer pequena brecha da investida do oponente, agia com velocidade fulminante. Esta sua técnica nunca havia falhado até então, tornando-o um espadachim imbatível.

Este impaciente guerreiro, conhecendo a reputação do velho samurai, procurou-o para derrotá-lo, e aumentar assim a sua fama de ronim (guerreiro errante) invencível. Todos os estudantes do velho samurai manifestaram-se contra a idéia, mas o honrado sensei aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade, e logo que os dois se puseram frente a frente, o jovem espadachim rapidamente começou a insultar o ancião. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seus trajes, gritou-lhe todos os insultos conhecidos - ofendeu inclusive seus ancestrais. Durante horas fez de tudo para provocá-lo, mas o velho samurai permaneceu impassível. E assim continuaram por toda a tarde...

Ao final do dia e com o sol já se pondo, o impetuoso guerreiro retirou-se, sentindo-se exausto e humilhado. Mas alguns alunos, desapontados pelo fato de o seu mestre ter aceito tantos insultos e provocações, perguntaram: "Como o senhor pôde suportar tanta indignidade ? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar covardia diante de todos nós?

Então o velho espadachim perguntou a eles:
"Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?" - "A quem tentou entregá-lo" - responderam eles. "O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos - concluiu o ancião - "Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carrega consigo".


Ainda que a abordagem que eu tenha escolhido neste post tenha sido pragmática, sem dúvida alguma existiriam infinitas outras maneiras de abordar a importância deste princípio e o significado de se criar Luz permanente em nossas vidas, inclusive sob uma perspectiva mais mística. No entanto, sabemos que o nosso comportamento objetivo e a nossa via concreta de conduta, incluindo o nosso modo de pensar e a nossa postura mental, a longo prazo se tornam a própria “imagem” do espírito.

Não reaja. Resista e crie Luz! Eis o sentido final do sétimo princípio essencial da Cabala.


Sobre reatividade e proatividade eu falei anteriormente aqui.

Fontes:
Kabbalah Centre;
Rabino Yehuda Berg;
Profª Graziella Marraccini.


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Princípio essencial da Kabbalh #6

"Nunca coloque a culpa do que lhe acontece em outra pessoa ou em eventos externos."

Este é básico. É um daqueles princípios essenciais tão essenciais que poderíamos ter a impressão de que todo mundo já o conhece, que todos já sabem disso. E talvez até muita gente já saiba, mesmo. Mas tem sempre aquela história da enorme diferença que existe entre o “saber” intelectual e a profunda e real compreensão a respeito de qualquer assunto... E essa realidade é ainda mais inevitável quando se tratam das questões espirituais. Exemplo: todo mundo até “sabe” que é preciso amar o próximo. Mas entender a necessidade do Amor e querer aprender a amar verdadeiramente, bem, isso não é assim tão comum, certo? Todo mundo também até “sabe” que deste mundo não levaremos nada, que o dinheiro não compra nossa saúde, e que por isso deveríamos nos cuidar melhor e dar valor às coisas simples da vida. No entanto, na prática, o que vemos é o ser humano cada vez mais escravo do dinheiro num mundo dominado pelo capitalismo selvagem e mais pessoas adoecendo por conta de preocupações exageradas com luxos materiais desnecessários. Por que isso acontece? Porque “saber” alguma coisa apenas no intelecto é diferente de saber integralmente, saber de fato.

Mas eu resolvi que a abordagem do princípio de hoje será diferente. Até porque este sexto princípio da Cabala é um dos mais polêmicos que vamos estudar nessa série. - O assunto envolve toda uma gama de questões bem mais profundas do que possamos enxergar à primeira vista.


"Nunca coloque a culpa do que lhe acontece em outra pessoa ou em eventos externos"... - Provavelmente todos concordariam que somos responsáveis pela maioria das coisas que nos acontecem. Isto é, se eu me atiro da janela do nono andar, é quase certo que vou me estatelar no piso lá embaixo. E se eu enfio o meu dedo na tomada... Mas, até que ponto nós somos sempre responsáveis por tudo aquilo que nos acontece? Onde começa a influência do ambiente e das pessoas/circunstâncias que nos cercam sobre o que somos e fazemos, e assim, direta ou indiretamente, sobre o que nos acontece?

Visualização reflexiva: Uma mulher sai de casa para o trabalho. No caminho, o pneu do seu carro fura. Ela então tem que descer do automóvel, para trocar o pneu ou tentar pedir ajuda. Acontece que o pneu furou quando ela passava por uma área pouco movimentada e perigosa, e assim, acabou sendo assaltada. A mulher foi culpada pelo que aconteceu? Ou ela foi uma vítima? Segundo o princípio que estamos estudando, tudo o que nos acontece e de nossa responsabilidade, foi causado por nós mesmos. Então poderíamos especular muitas questões a respeito desse exemplo hipotético.

1) Por que os pneus do carro furaram? Estavam gastos? Bem, então ela deveria ter sido mais atenta; se tivesse tomado mais cuidado, isso não teria acontecido. = Nesse caso, a responsabilidade pelo infortúnio foi da mulher.

2) Mas suponhamos que o pneu tenha furado por ela ter passado em cima de um prego jogado na pista, o que teria sido impossível à mulher ver ou prever. Assim ela não teria como evitar o que aconteceu. = Então ela não foi culpada.

3) Indo um pouco mais fundo no nosso exercício de reflexão, ainda poderíamos argumentar que se ela tivesse tomado um caminho mais seguro para o trabalho, ainda que mais longo, ao invés de ficar passando numa área erma, o assalto não teria acontecido, ainda que o pneu tivesse furado. = Culpa da mulher.

4) Por outro lado, assaltos acontecem em qualquer lugar, hoje em dia, muitas vezes até mesmo diante de delegacias de polícia, o que implica dizer que, ter feito outro caminho não necessariamente significaria segurança. = Culpa da mulher ou das circunstâncias?

Aplicar essas duas linhas de raciocínio opostas, assim nesse caso como em infinitas outras possibilidades, poderia nos levar muito longe, e para cabeças diferentes, haveriam sem dúvida sentenças diferentes. Por isso mesmo, vou apelar para um outro exemplo mais radical:

Visualização reflexiva 2: Manhã de 31 de outubro de 1996. O Sr. Roberto, um pacato morador do bairro do Jabaquara, em São Paulo, cuida tranqüilamente das flores do jardim da sua casa, quando, simplesmente, um enorme avião de passageiros “Fokker 100” da companhia aérea TAM, cai a poucos metros da sua residência, matando instantaneamente três dos seus vizinhos, além dos 96 passageiros. O terrível acidente ocorreu devido a um problema no reverso da turbina, e a gigantesca aeronave caiu em cima das casas do bairro logo após decolar. Sr. Roberto foi atingido por estilhaços em chamas que arremessaram seu corpo a muitos metros de distância. Ele sofreu fratura exposta no tornozelo esquerdo, além de escoriações por todo o corpo. Passou quatorze dias hospitalizado e saiu com seqüelas que até hoje impedem que ele caminhe com a mesma desenvoltura de antes, sem contar o grave trauma psicológico.

Qual a culpa do Sr. Roberto por ter sido atingido por um avião que caiu do céu sem nenhum “aviso prévio”?? Ele poderia ter adivinhado o acidente antes que acontecesse? Que medidas de precaução ele poderia ter tomado para que não precisasse ter que passar por todo esse infortúnio?

As respostas são suas. Até que ponto o sexto princípio essencial da Cabala é válido? Até que ponto pode ser contestado?

Há muito a ser dito sobre este assunto, sem nenhuma dúvida, muitas perguntas a serem feitas e respostas a serem encontradas. Mas são perguntas que só você, leitor, pode fazer, e respostas que só você pode encontrar. Eu tenho as minhas próprias, que por hora prefiro não publicar, por entender que ser tratam de especulações iguais a quaisquer outras. Se você quiser compartilhar as suas próprias especulações comigo, esteja à vontade. Quem sabe assim possamos aprender coisas novas juntos, eu e você? A sua partilha será bem vinda. Este é o máximo que eu posso fazer para explicar o sexto princípio essencial da Cabala.


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Princípio essencial da Kabbalh #5


"No momento de nossa transformação fazemos contato com o Âmbito dos 99%."

Apresentando mais um princípio essencial da Cabala. - O quinto, de um conjunto de 14 aforismos sobre os quais se baseia a tradição mística rabínica. - O que significa este princípio? Bem, antes de qualquer coisa, é preciso já ter entendido o seu segundo princípio essencial, que afirma que a Existência está dividida em duas realidades básicas:

1) O nosso mundo, que na tradição cabalista representa o chamado "Mundo de 1% de Escuridão",

2) O Mundo, Reino ou Âmbito de 99%, constituído de Luz, o chamado Reino de Deus.

Se você não conhece este segundo princípio, leia a explanação aqui.

Falando de modo bastante resumido, para compreender o teor deste quinto princípio essencial importa saber que a Cabala considera a realidade que habitamos (que chama de ‘Mundo do 1%’) como um “mundo”, “reino” ou realidade ilusória e temporária, a qual temos que enfrentar e superar, antes que possamos atingir o nosso desafio maior: o de nos fazermos, em algum nível, dignos do Reino de Deus, - de verdadeira, perfeita e perene Vida.

A partir daí, realmente não é difícil compreender o que quer dizer o quinto princípio em si. Ele afirma que, no momento da nossa Transformação, isto é, a partir do instante em que passa a ocorrer dentro de nós uma real mudança de paradigmas, - o momento do início de uma verdadeira conversão a um novo estilo de vida, do materialista-mundano-limitado para o espiritual-sublime-infinito - que é o momento da descoberta das Realidades Divinas, estamos entrando em contato com o Reino de Deus.

Importante também é saber que o termo “entrar em contato”, dentro desse contexto, não significa necessariamente adquirir algum poder especial ou ter alguma visão supranatural maravilhosa/espetacular do Mundo Divino. Não significa nem mesmo que a partir daquele momento você vai atingir a Paz perfeita e passar a se manter nela para sempre, deixando de sofrer com as dificuldades e provações inerentes a este nosso mundo e à vida humana. Significa, isto sim, que você avançou um passo muito grande e importante em direção à compreensão definitiva da Verdade. Que você atingiu um ponto magno e primordial na sua busca espiritual; um ponto do qual não haverá mais volta, porque agora que você viu e compreendeu a verdadeira natureza da Vida, se tornará impossível fechar os olhos e simplesmente esquecer ou ignorar o que viu. Você foi tocado.

Ainda haverá, sim (sempre há), a opção de negar. Mas, de qualquer maneira, agora você saberá o que está negando. Você sempre saberá, em algum nível muito profundo, que você está negando a Verdade, recusando-a, deixando de assumi-la por medo, e não mais por ignorância, como antes. Você não terá mais a desculpa de não saber...

Óbvio que, após o encontro com a Verdade, apenas os muito covardes pensarão em negá-la. Porque talvez esse encontro não seja agradável ou fácil, como muitos imaginam. Mas ainda assim, se você chegou até esse ponto, muito provavelmente você já está consciente de que esta é a única coisa que realmente importa. Que esta é a saída, esta é a porta, a resposta e a solução que você sempre buscou. Ainda que não seja uma escolha fácil, ainda que o Caminho não seja tão espaçoso, no fundo você sabe que vale à pena.

Estamos falando do momento em que conseguimos chegar mais perto de Deus, e conseqüentemente mais próximos de nós mesmos e também mais próximos da perfeita Liberdade tão almejada.

Então porque, mesmo assim, é dito que essa Transformação não significa a final e definitiva superação dos nossos problemas, ver as nossas dificuldades e limitações humanas transcendidas? Por uma razão muito simples: as dificuldades, dores e limitações, que temos que enfrentar aqui, são parte essencial do nosso aprendizado. São elas, justamente, que nos levarão à esse estado de perfeição tão almejado.

Isso não é negar a possibilidade do auto-aprimoramento humano. Auto-aprimoramento é uma arte. Aperfeiçoar-se dia a dia é como insistir em alguma coisa muito desejada, mesmo que pareça impossível. Conhece aquela historinha da rã que caiu num balde de leite, mas não desistiu da vida e continuou batendo as patinhas? Tanto insistiu, insistiu, que o leite virou manteiga, com o movimento de suas pernas (ou será creme de leite? ou coalhada?) e assim ela pôde sair. Uma coleguinha dela, que caiu no mesmo balde, desanimou, desistiu e se afogou... Para que possamos nos aprimorar, superando nossas falhas e chegando mais próximos do que consideramos ideal, é preciso seguir mais ou menos o mesmo raciocínio: se você tem um vício, uma fraqueza, algo que atrapalha muito, entravando o seu crescimento espiritual e fazendo com que não consiga ser aquilo que gostaria de ser, a preciosa dica é uma só: Persista e resista! Não já caminho fácil quando se trata de eliminar vícios, aprimorar o caráter ou atingir níveis espirituais mais elevados. Este é um outro tema, que deverá ser abordado no estudo do sétimo princípio essencial da Cabala.

Mesmo assim, muito antes de nos tornarmos os grandes homens/mulheres que sonhamos ser, já naquele primeiro momento, quando escolhemos ser, - aquele momento em que decidimos que queríamos encontrar Deus e a Verdade, o momento em que dissemos "basta!" para uma vida oca e sem sentido... Neste precioso momento ocorreu uma Transformação interior no mais profundo do nosso ser. E neste precioso e mágico momento, em algum nível muito sutil e ainda incompreendido por nós, afirma a Cabala que fizemos contato com o que chama de Reino ou Âmbito dos 99% - o Reino de Deus.


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Princípio essencial da Kabbalah #4

"Fênix renasce das cinzas"

Apresentando agora o quarto princípio essencial da Cabala:

“O Objetivo da Vida é a Transformação da Condição Espiritual do Ser Humano: de Reativo para Pró-ativo.”

Mais um estudo cabalístico que traz em si um potencial altamente transformador. Este conceito traz possibilidades de mudança tão reais e palpáveis na vida de um indivíduo que, depois que foi descoberto, vem sendo (amplamente) utilizado por “coachings” empresariais, para ilustrar palestras em cursos de treinamento para líderes de diversas áreas, para motivar equipes de vendas e etc, etc... Uma rápida busca na rede e vai ser muito fácil você dar de cara com termos do tipo: “Transformação de um vendedor reativo em proativo...”, “...reativo para proativo – uma grande mudança na sua vida profissional”, “...de reativo para pró-ativo: obtenha mais sucesso nos seus negócios”...

Algumas pessoas “se tocaram” que esse princípio poderia ser aplicado (com sucesso ou não, vai depender sempre de cada indivíduo), nas atividades e relações comerciais, e aproveitaram para desviar o foco: de espiritualidade para comércio. Sim, estou falando do lema clássico dos “grandes homens” deste nosso mundo: “Busquem primeiro o dinheiro, e o Reino de Deus vos será dado por acréscimo”... Tem alguma coisa invertida aí... Bem, mas isso seria o tema de um outro assunto.

Dentre as diversas novas religiões e seitas, aquela conhecida como “cientologia” também se apropriou deste princípio essencial, e traz como um de seus próprios princípios básicos a importância da transformação do indivíduo humano, de reativo para pró-ativo. - A sua obra-magna “Dianética” (de L. Ron Hubbard) é na verdade uma grande explanação sobre como poderíamos efetuar esta transformação em nossas vidas. - Por um caminho equivocado, a meu ver. No caso das ciências da mente, a terapia conhecida como “Análise Transacional” também se utiliza soberbamente dos conceitos de ativo e pró ativo para tratamento de pacientes.

Antes de qualquer outra coisa, em nossos estudos, precisamos entender muito bem o que significa uma condição humana reativa e uma condição humana pró-ativa; obviamente um ponto fundamental para a compreensão deste quarto princípio.

O que representariam, para o estudante da Cabala, os termos “reativo” e “pró-ativo”?

O ser humano reativo é aquele que apenas reage. Reage às situações da vida, às pessoas que o cercam, ao comportamento dos outros. O seu modo de conduta depende daquilo que lhe fazem ou do que lhe acontece. Se no trânsito alguém corta à sua frente, ele fica nervoso; xinga. Se um colega de trabalho age de forma desleal para com ele, procura responder e dar o troco na mesma moeda. Se o filho pequeno abusa da sua paciência, ele se irrita, perde a calma, manda um berro e talvez uma palmada... Estes são exemplos muito simples e o importante aqui é nos atermos não às reações destes personagens hipotéticos em si, mas sim no fato de terem sido movidos de suas disposições iniciais por fatores externos. Se o motorista xingou ou não no trânsito, isso é só um detalhe, o que realmente faz com que ele seja um reativo é o fato de ter se irritado por ter sido fechado. O mesmo vale para qualquer outro exemplo. Se você "se move" da sua posição inicial, se você se permite abandonar suas posturas, deixar de lado os princípios que abraçou, por conta de algo que lhe aconteceu, algum revés, decepção ou alguma ofensa sofrida, então você está reagindo a uma situação. Esse caminho, além de levar à dor e ao sofrimento, pode trazer destruição e muitas derrotas. A meta do estudante da Cabala é não mais reagir, mas sim se tornar senhor dos seus sentimentos e adquirir poder sobre suas próprias ações. Se eu escolho ser calmo, por exemplo, não posso me desviar desta via de conduta por conta de fatores externos. Isso não quer dizer que tenhamos que permanecer impassíveis a tudo, sempre, mas sim que devemos tomar o comando de nossas próprias vidas.

Adotar um comportamento pró-ativo significa não reagir a eventos e situações externas, não permitir que eles influenciem nossos sentimentos e nos façam perder o controle. Ser pró-ativo, segundo a tradição cabalista, é agir como a Luz da criação. Eu sou proativo quando escolho, quando sou mais forte que meu corpo físico, mais forte que as minhas tendências mais baixas, - aquelas que se econtontram presentes em todo ser humano e nos fazem agir de um modo que depois provoca arrependimento. Agindo assim, estaremos criando uma nova realidade para nós mesmos. Mas.. Como colocar isso em prática?

A primeira coisa que precisamos entender é que a negatividade está sempre dentro de nós mesmos e não na pessoa ou na situação que provoca nossas reações. Para colocar o conhecimento dessa realidade na prática, a Cabala propõe alguns exemplos e exercícios bastante práticos.

Exemplo: pegue um pedaço de papel e divida-o em 3 colunas. Na primeira, escreva uma situação do seu dia a dia que o faz reagir negativamente, que o deixa frustrado ou bravo. Por exemplo: “Quando eu chego em casa do trabalho, meus quatro filhos vêm ao mesmo tempo pedir ajuda com as lições de casa e ficam brigando entre si para ver quem será atendido”. Na segunda coluna, escreva qual é a sua reação emocional imediatamente após essa situação ter acontecido. Por exemplo: “Eu fico muito irritado e às vezes perco o controle”. Na terceira coluna, escreva qual foi a sua resposta concreta, que atitude você tomou para lidar com essa situação. Por exemplo: “Comecei a gritar com as crianças, mandei cada um para o seu quarto e não ajudei nenhuma delas”. Agora, tente analisar o que você escreveu. Escreva na coluna do meio o que acha que seria uma reação adequada e de acordo com aquilo que você considera certo.

Agora uma análise do exemplo dado: a pessoa do nosso exemplo obviamente não estava no controle da situação. Quem ou o que fez com que ela reagisse negativamente? "As crianças", seria a resposta óbvia. Mas não é a resposta certa, segundo a Cabala. O que a fez reagir foi a sua própria negatividade interna, seu oponente foi o seu desejo interno egoísta, de receber para si mesmo. As crianças na verdade poderiam ter sido a sua oportunidade de transformação, criando essa situação para que a pessoa tivesse a chance de superar sua reatividade.

Enquanto o indivíduo não mudar sua postura, cenas como essa acontecerão de novo, de novo e de novo, infinitamente. Isso não provém da Luz, porque a Luz é renovadora. Somente quando alguém passa a agir proativamente, como a Luz, encontrando uma nova forma de lidar com situações e pessoas, criando assim uma nova situação dentro desse mesmo quadro, estará agindo proativamente.

Como fazer isso? Muito simples, mas pode soar muito difícil: Não reaja! Inicialmente, apenas pare. Faça uma “pausa interna”. Perceba o desafio e pare a reação emocional imediatamente. Crie a partir daí uma nova situação! Se você conseguir simplesmente parar naquele minuto, sua luz interior poderá criar uma nova situação a partir desse mesmo quadro. Muitas pessoas podem estar pensando agora: “É tudo muito bonito, mas como eu vou me lembrar de tudo isso e parar minha reação na hora ‘H’, naquele momento em que a emoção toma conta e tudo está em ebulição?”. Pense no seguinte:

Se alguém lhe oferecesse $ 1.000 a cada vez que você conseguisse parar a sua reação emocional e agir proativamente, o que você faria? Tenho certeza que não só você iria se lembrar disso a todo momento como também iria implorar por mais situações difíceis e desafios que te dessem a oportunidade de se transformar! É exatamente essa a idéia! Só que em vez de receber o dinheiro, a cada vez você recebe mais Luz!

Trata-se de um exercício constante. Da mesma maneira que para adquirir boa forma física você precisa se exercitar constantemente, para adquirir consciência espiritual você também precisa se exercitar. No caso dos exercícios físicos, no começo é sempre mais difícil, os músculos ficam doloridos e nos sentimos cansados, tendemos a desanimar. Mas, se persistirmos, com o decorrer do tempo isso passa a fazer parte da nossa rotina de vida, como escovar os dentes, e começamos a nos sentir melhores e mais dispostos, alcançando bem estar e muitos benefícios a longo prazo. Da mesma maneira se dá com o exercício de cultivar a consciência das nossas ações e reações intespetivas.

No exemplo citado acima, se aquela pessoa deixasse de se comportar reativamente (reagir), com certeza poderia criar uma nova situação e também as crianças iriam mudar sua forma de abordagem. O indivíduo estaria criando para si uma nova realidade. Este foi um exemplo muito simplificado, mas quantas situações surgem em nossas vidas, diariamente, como oportunidades para realizarmos essa transformação?

Outra proposta de exercício prático: procure encontrar diariamente ao menos uma situação, em sua rotina, na qual você possa modificar seu comportamento de reativo para proativo, assumindo o controle da situação. Observe os resultados e tire suas próprias conclusões.

O problema com o comportamento reativo é que ele dá a ilusão de um resultado imediato, dá a sensação de que resolvemos o problema imediatamente. Mas isso é apenas ilusão. Um exemplo de como isso funciona no dia-a-dia: imagine uma pessoa que está de dieta. Ela vem se esforçando em cuidar da alimentação e manter o programa que vem seguindo para atingir seu objetivo de perder peso. Agora ela se defronta com uma situação onde alguém gentilmente lhe oferece uma fatia de bolo de chocolate. Seu instinto reativo faz com que ela não resista e a convence de que pode comer um pedaço de bolo e reiniciar a dieta na próxima segunda-feira. Ela sucumbe e come o pedaço de bolo. Uma vez perdido o controle, não há problema em comer mais um pedaço... A pessoa se deleita com a sensação de prazer e satisfação que essas várias fatias de bolo lhe oferecem, dando-lhe uma gratificação imediata fútil. Depois de pouco tempo, o prazer passou, e a pessoa é tomada por sentimentos de culpa, remorso, frustração e raiva de si mesma. Se tivesse resistido, agido proativamente, satisfazendo seu desejo com uma fruta, por exemplo, no momento essa satisfação poderia não ser tão intensa, mas apenas alguns minutos depois, sentimentos de realização e de satisfação por ter mantido o autocontrole e a dieta iriam tomar conta dessa pessoa, permanecendo com ela até o dia seguinte.

Um outro exemplo, usado pelo rabino Yehuda Berg:

“Imaginem um vendedor. Teoricamente, quanto mais vende, mais ele ganha. Imagine então que alguém entra em uma loja para comprar um determinado produto que o vendedor não tem. Mas ele tem um estoque enorme e precisa vender. Ele tem duas opções: se agir reativamente, vai fazer de tudo para “forçar” a venda, insistindo muito e dizendo ao cliente, por exemplo, que o produto que ele tem para oferecer é melhor. Mas se agir proativamente, ele até poderá falar ao cliente a respeito do produto de que dispõe, mas vai também indicar outra loja onde o cliente poderá encontrar o que deseja. Essa venda ele não fez, mas com certeza a Luz poderá providenciar que surjam muitos outros clientes para comprar exatamente aquilo que ele precisa vender. Neste caso, ele transcendeu a ilusão de que é um vendedor e precisa vender a qualquer custo. Pensou no outro, pensou em satisfazer a real necessidade do outro e a Luz irá satisfazer a real necessidade do vendedor, que pode até ser em outra área que não vendas.”

Como podemos ver, são as situações diárias e corriqueiras que nos oferecem as grandes oportunidades de agirmos proativamente e crescermos espiritualmente. É para isso que esse conhecimento cabalístico é ensinado: para que você possa aplicá-lo hoje e começar a mudar a sua vida agora!


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"Manias Estranhas" - exemplos objetivos da importância da conversão 'Reativo' > 'Proativo'":
Artigo do Profº Dr. Roque Theophilo, Psicoterapeuta, Sociólogo e Pesquisador, do site "Amigo Psicólogo".

A Tricotilomania é uma anomalia na qual a sua vitima se compraz em arrancar continuamente os fios de cabelo. sendo mais freqüente os da cabeça. Podem. também ser os dos cílios, sobrancelhas e pelos pubianos. As causas principais que levam a pessoa a tal prática são:

1. Impossibilidade de resistir ao impulso.

2. Sensação de tensão, ansiedade antes de começar a arrancá-los.

3. Sensação de alívio da ansiedade , após arrancar os fios de cabelo.
O ritual de arrancar os cabelos pode durar segundos, minutos e até mesmo o dia inteiro.

A Tricofagia é a compulsão que levam as pessoas a engolirem os cabelos arrancados.Tal hábito pouco salutar causa o acúmulo de cabelos no estômago e freqüentemente exige cirurgia para a remoção do novelo de cabelos que se forma no estômago e até nos intestinos. O diagnóstico da tricomania e da tricofagia só pode ser feito com exatidão desde que a pessoa não esteja sofrendo de doença no couro cabeludo ou de doença que produza vivências delirantes.

As causas das referidas anomalias são desconhecidas: o que se acredita é que exista uma relação entre Tricotilomania, e o Distúrbio Obsessivo Compulsivo (DOC), Síndrome do Pânico e principalmente a Depressão, pois que existe maior incidência desses quadros nas pessoas que têm uma ou mais das síndromes citadas.

Alguns casos podem melhorar com Psicoterapia Comportamental, porque vai ajudar o paciente a resolver ou administrar os conflitos psicológicos que estiver sofrendo e o ensinará a resistir aos impulsos. É fundamental que se reconheça que a ansiedade para a prática do ato é muito forte. Quanto mais o paciente resistir aos impulsos, por mais ansioso que fique, estará dando passos gigantes para a libertação ao mal. Sem essa resistência nenhum tratamento dá certo.


Assim como a tricofagia e a tricotilomania, existem centenas de distúrbios psicológicos que só podem ser tratados mediante a conscientização, por parte do paciente, da importância de se cessar o comportamento reativo e o iniciar de uma reeducação mental que visa o processamento cerebral proativo. A inserção deste anexo ao post foi para que pudéssemos observar que a psicologia e a psiquiatria modernas também chegam às mesmas conclusões que os cabalistas há muitos séculos. Aplicar o quarto princípio em sua vida e começar a observar mudanças só depende de você.


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Princípio essencial da Kabbalah #3


Conforme estudado anteriormente, segundo a Cabala, nós somos os nossos desejos. Pois bem, agora é a hora de compreender a principal razão de existir a infelicidade neste mundo. Já andei especulando anteriormente sobre a questão da dor e do sofrimento, tentando chegar a um termo sobre as razões de tanta desarmonia em nosso mundo e em nossas vidas. Mas acredito que nunca cheguei tão fundo, nunca me aproximei tanto de uma resposta definitiva quanto farei desta vez. O terceiro princípio essencial da Cabala me parece que realmente vem solucionar uma “charada” sobre a qual se debruçaram inúmeros santos, sábios e filósofos no decorrer da história humana - sem conseguir encontrar uma solução que parecesse realmente funcional ou definitiva.

Imagino que as declarações acima possam estar soando, no mínimo, como um exagero de minha parte. Como sempre, a minha proposta é que cada um examine o que está sendo exposto por si mesmo e chegue às suas próprias conclusões. Ou, como preconiza o primeiro princípio, não acredite numa única palavra do que aprender nos seus estudos. teste as lições aprendidas . Estaria eu afirmando que a Cabala nos traz as respostas definitivas para todos os problemas da vida, que ela é a fonte da Verdade suprema ou que ela resume o Caminho do buscador? Não, não é o que estou dizendo. Eu continuo acreditando que as verdades essenciais estão espalhadas pelo mundo, em diversas escolas, ocultas sob as mais variadas formas, e podem surgir das mais inesperadas fontes. Porque a compreensão do nosso Bem Amado Cósmico está disponível para todos, e Ele próprio não se limita às nossas ordens, escolas e especulações. Também dentro da tradição da Cabala, eu digo que é possível encontrar equívocos, falhas e descaminhos. Assim como nela podemos encontrar verdades poderosas e transformadoras como o seu terceiro princípio essencial, que diz:

“Tudo que um ser humano realmente deseja da vida é a LUZ espiritual”


Sim! É exatamente isto que nos falta compreender! Somente por acreditarmos que não é assim, por acharmos que precisamos de muitas outras coisas, é que sofremos.

Você sabe o que é “equilíbrio homeostático”? E você sabe o que quer dizer o termo psiquátrico “prazer negativo”? Essas realidades científicas estão diretamente relacionadas à compreensão do assunto deste post. Por isso transcrevo abaixo as explicações abalizadas do brilhante psicólogo, psiquiatra e psicanalista Dr. Flávio Gikovate, antes de passar à segunda parte desta postagem fundamental:

“Para falar sobre a possibilidade de um ser humano ser feliz, convém começar pelas coisas mais simples, ou seja, aquelas que nos fazem infelizes. Nosso organismo como um todo, assim como cada célula ou órgão nosso, busca permanecer em um estado de equilíbrio interno. No caso das células, isso corresponderia ao entre as concentrações de substâncias como o sódio e o potássio no interior delas e nos líquidos que as cercam. Se a concentração for maior de um dos lados da membrana que as limita surgem movimentos migratórios de substâncias líquidas para que as concentrações voltem a ser iguais dos dois lados. Esse é o fenômeno básico da homeostase, a busca permanente por equilíbrio.

Assim como cada célula, nosso organismo – inclusive o psiquismo – também busca o equilíbrio homeostático. Isso se faz por meio da ingestão de alimentos e líquidos, pela eliminação de detritos, além, é claro, da respiração. Trata-se de uma busca contínua, uma vez que o equilíbrio se perde pela simples razão de suarmos num dia quente. O momento do equilíbrio homeostático é como uma fotografia, um fotograma em um filme. É um instante fugidio que se perde e se recupera a todo momento. É um ponto que se busca o tempo todo, se alcança, se perde e se torna a se buscar. Essa é a vida de todos os seres vivos sobre a terra, e também a dos seres humanos.

Os desequilíbrios homeostáticos são, via de regra, sentidos como desagradáveis. Isso quer dizer que nossa mente registra esses estados físicos como dolorosos. A mente toma consciência, por exemplo, da falta de água no organismo. Chamamos a essa percepção de sede. O mesmo acontece com a comida: sentimos o desconforto que chamamos de fome. Sentimos dor e incômodo se não pudermos satisfazer a nossa necessidade de eliminação dos detritos do corpo na hora por este solicitada. – coisa que nos acontece muitas vezes em virtude das normas civilizatórias que regulamentam os locais específicos para esse fim e que nem sempre estão onde precisamos.

Fome, sede, frio, sono e desejo de defecar e urinar são alguns dos desequilíbrios homeostáticos mais habituais e de caráter desagradável. - Existem também os desequilíbrios que podem ser registrados como agradáveis, e que por isso mesmo podem se tornar muito perigosos; esse é um outro assunto, a ser abordado em outra ocasião. - Se estivermos com sede e sem acesso a água ou outro líquido, sentiremos a dor do desconforto. Infeliz com isso, nossa mente passa a se ocupar de forma prioritária do problema, buscando sua resolução com determinação e firmeza. Finalmente encontramos o remédio que tanto buscávamos: água potável! Se estivéramos por muito tempo sentindo a sede, quando bebemos sentimos um enorme prazer que advém do fim do desconforto. O prazer acontece por sairmos de um ponto zero, o ponto de equilíbrio homeostático. Daí Schopenhauer ter chamado esse tipo de prazer de ‘prazer negativo’. – O prazer negativo é uma felicidade passageira, efêmera, que deriva do fim da dor relativa à sede. Fenômeno idêntico acontece com todos os outros desconfortos físicos causados por desequilíbrios homeostáticos.

Temos paladar, olfato e visão apurados. Ao sentirmos sede ou fome, podemos tomar água ou nos alimentar de várias coisas básicas e preparadas de forma singela. Podemos também tentar acrescentar algum tipo de sofisticação extra ao processo de resolução de nossas necessidades. Podemos ingerir sucos de frutas adoçados, podemos comer de forma criativa, nos servindo de pratos bonitos, aromáticos e de paladar particularmente requintado. Saciaremos a sede ou a fome e ainda por cima experimentaremos um certo prazer especial derivado de sensações que são requintes agregados aos prazeres negativos. Nós, humanos, por meio da inteligência, sofisticamos nossas atividades fisiológicas mais simples, transformando-os em prazeres que vão muito além da simples resolução das necessidades. Agregamos prazeres positivos ao processo de recuperação do estado homeostático. A isso poderíamos chamar de prazeres negativos sofisticados pela razão criativa.

A vaidade, componente de nosso instinto sexual, também participa dessa sofisticação das nossas atividades essenciais. Atua de forma óbvia e explícita na questão do vestuário, elemento necessário para nos protegermos contra o frio, que ultrapassou esse objetivo inicial. No caso das comidas e bebidas mais requintadas, também estamos diante do prazer exibicionista, já que nos sentimos importantes e prestigiados quando fazemos aquilo que chama a atenção dos outros. Isso acontece quando nos destacamos porque temos acesso a alimentos fora de série, preparados por chefs famosos que trabalham em restaurantes caríssimos.

Graças à inteligência e à vaidade, transformamos nossas atividades essenciais relacionadas com a sobrevivência em algo complexo e rico em detalhes. Assim procedendo, nem parece que estamos saciando necessidades fisiológicas simples. É como se quiséssemos, a todo momento, nos esquecer de nossa condição animal e principalmente de nosso caráter mortal. Os atos relacionados com a eliminação dos detritos não puderam ser camuflados de maneira competente, de modo que, nessa hora, ricos e pobres são forçados a reconhecer sua precária condição de ‘simples’ mamíferos.

Entre os prazeres negativos, penso que é importante registrar de modo especial aquele que está relacionado com a saúde e a doença. Sentimo-nos doentes quando vivenciamos um quadro genérico de fraqueza, desconforto, calafrios, tonturas e etc. muitas doenças provocam sintomas mais específicos, como é o caso de dores localizadas, erupções cutâneas, alterações digestivas, estados depressivos e assim por diante. São desprazeres bem maiores do que a sede, a fome ou o frio temporários. Não há proporção entre o grau de sofrimento que experimentamos e a gravidade da doença. Nos casos em que existe risco de morte o sofrimento psíquico cresce muito, mas também padecemos bastante nas dores de dente, enxaquecas, cálculos renais e outros males.

O prazer negativo relacionado com a recuperação da saúde – recuperação do bem-estar geral ou fim de um sintoma específico – é enorme. Estávamos muito afastados do ponto de equilíbrio, e por um tempo maior do que costumamos passar fome ou sede. ‘Saudamos’ a recuperação física do mesmo modo que nos alegramos com uma grande conquista: o prazer é extraordinário e fundamental. O que acontece depois de 24 ou 48 horas? Tratamos nosso bem-estar com absoluta naturalidade. Não sentimos mais o grande prazer de acordar bem dispostos e energizados. Assim como todos os prazeres negativos, esse também tem duração efêmera, posto que logo que nos acomodamos à boa situação, ele cessa. É como se tivesse sido sempre assim. Precisamos nos empenhar para evocar a lembrança das agruras que passamos com a doença que já se foi. Porém, ao primeiro sinal de um novo mal-estar, voltamos a nos preocupar e valorizar a saúde como a maior de nossas dádivas.

Não acordamos felizes todos os dias por sermos saudáveis, nem pensamos nisso de modo espontâneo. Agora, se acordarmos com uma pequena dor no dedo do pé, serão sobre ela nossos primeiros pensamentos – cheios de apreensões. É assim que funciona o psiquismo, sempre mais preocupado em nos preservar do que facilitar as lembranças dos prazeres e alegrias. Acordamos pensando nas nossas dívidas, mas nunca pensamos em nossa situação financeira quando estamos com um bom saldo no banco. A propósito, temos de analisar melhor a importância do dinheiro para a construção da felicidade. Não pretendo esgotar um tema assim tão vasto e acho que cabe aqui apenas afirmar que o dinheiro é essencial para a resolução de dores e de outras fontes de infelicidade que derivam dos desequilíbrios homeostáticos. O dinheiro é o instrumento por meio do qual podemos adquirir agasalho para nos proteger contra o frio e ter acesso a um teto que nos proteja das intempéries climáticas. É o mediador das trocas que podem nos permitir acesso aos alimentos e até nos gratificar com uma deliciosa barra de chocolate (sofisticação extrema de um prazer negativo).

O dinheiro é essencial para que possamos cuidar bem da saúde e resolver outras necessidades básicas e experimentar prazeres negativos essenciais à preservação de uma vida considerada digna. As dúvidas acerca da importância do dinheiro para o tema da felicidade aparecem sobretudo nas reflexões acerca do seu uso para o consumo de quantidades cada vez maiores e crescentes de produtos supérfluos. Refiro-me tanto à ânsia de sofisticar exageradamente os prazeres negativos como aos duvidosos benefícios derivados da gratificação da vaidade exibicionista, com o objetivo de chamar a atenção dos que têm menos dinheiro.

Minha experiência pessoal e profissional me faz desacreditar da capacidade efetiva de obtermos algum tipo de felicidade derivada da acumulação de bens materiais não essenciais. Não creio que provoquem algum tipo de satisfação mais importante e/ou duradoura. Certa vez li uma frase interessante: ‘Ricos são aqueles que tem muito das mesmas coisas’! Ter muitos sapatos pode fazer uma pessoa mais feliz do aquela que tenha o suficiente – e talvez um pouco mais – do que o essencial?

Vejam como o tema pode se complicar: mesmo que o dinheiro não seja importante para atingir a felicidade, o fato é que as questões relacionadas com ele podem ser fonte de grande infelicidade quando se transformam em uma questão social ligada às comparações. Um estudo recente levado a cabo nos EUA mostra que família que ganham US$50 mil por ano e vivem num bairro em que a média de salários é de US$40 mil estão mais satisfeitas com a sua condição dos que as que ganham US$100 mil e vivem numa comunidade em que a média é de US$120 mil. Os números falam por si: somos mais incomodados pela suposta 'humilhação' de não podermos ter aquilo que os nossos vizinhos possuem do que pela falta efetiva de bens materiais(!!!). Certa vez, um psicólogo cubano me contou que não tinha carro, mas que isso não o incomodava em nada, porque em Havana ninguém, das pessoas com quem ele convivia, tinha!

Assim, a falta de dinheiro para fins supérfluos pode se transformar em uma nova dor, similar à fome ou às doenças, em uma sociedade que valoriza demais o sucesso nessa área e o acesso a bens materiais duvidosos – tanto em relação à necessidade que temos deles quanto às gratificações e aos prazeres que eles nos proporcionarão. Um indivíduo bem sucedido, que consegue ganhar dinheiro para comprar o que os outros também têm, experimenta a felicidade derivada de um prazer negativo: conseguiu sair da condição de humilhação (dor psíquica) em que se encontrava por não estar na mesma condição de seus pares. A dúvida é em que medida – e por quanto tempo – ele realmente aproveitará sua nova condição.

A certeza é que a sociedade de consumo conseguiu seu objetivo: produzir uma nova fonte de sofrimento relacionada com a falta de bens supérfluos(!!!). Lutamos de forma competitiva até a exaustão para ter acesso a bens de que só necessitamos para que não nos sintamos tristes por não possui-los!

Vamos mal!"



Dr. Flávio Gikovate


Continua...


Fontes e bibliografia:
Kabbalah Centre;
"O Poder da Cabala", - Rabino Yehuda Berg (Imago);
"Dá pra Ser Feliz... Apesar do Medo", 2ª edição (2007) - Dr. Flávio Gikovate (MG Editores)



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